Emanuel, Jaci e Oxalá estavam eufóricos e simultaneamente ansiosos naquele final de tarde. Não era sem razão a agitação dos três amigos. Emanuel contara a eles que no dia anterior o seu Pai convidara Alá, Buda, Confúcio, Olurum, Sumé, Tupã, Viracocha e Xangô para uma importante reunião sobre os destinos da humanidade. Segundo compreendeu Emanuel, a pauta principal seria debater sobre a Justiça, pois entendiam descreditada no mundo que concentrava as riquezas nas mãos de poucas pessoas, enquanto aumentava a fome, a desesperança, o ódio, a intolerância e as mortes violentas.
– Gostei muito do tema da reunião e da ideia de nos unirmos em defesa da verdadeira harmonia e igualdade entre as pessoas – comentou Jaci, para logo observar. – Mas você não acha que está faltando a voz feminina nesse encontro? Não acham que deveriam convidar Durga, Kali Ma, Ishtar, Yebá Bëló, Nu Gua, Onilé, Pachamama, Vishnu e outras tantas?
– Acho que Emanuel omitiu o time feminino para provocar você, Oshupá – gargalhou Oxalá. – Ele mesmo me incumbiu de convidar Onilé, dizendo que era imprescindível a presença da nossa Orixá da Terra.
– Sei! – fingiu-se zangada Jaci. – Mas temos que ficar alertas, senão não nos escutam. É preciso que sempre lembremos de que não haverá julgamento imparcial sem a nossa presença.
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– E um juiz parcial ninguém merece – sorriu Oxalá.
– Meu Pai tem na perspectiva da imparcialidade no Dia do Julgamento Final a esperança de que as pessoas possam ter a certeza de que vale à pena praticar o bem, pois as suas ações seriam avaliadas segundo o que efetivamente fizeram e não pelo que delas disseram.
– Acredito que João disse isso na última vez em que nos encontramos – lembrou Oxalá. – “Não julguem apenas pela aparência, mas façam julgamentos justos”.
– Moro no Brasil – pontuou Jaci. – E sei de julgamentos claramente parciais Nestes as tramas são organizadas na calada da noite, clandestinas, sem qualquer chance para o julgado.
– Sempre certeira, Jaci! – concordou Emanuel, lembrando de Romanos 2:1-3. – Os falsos julgadores não escaparão ilesos do juízo de meu Pai, pois sabemos que não existem desculpas, as pessoas julgam e condenam por crimes que também elas próprias praticam.
– Especialmente quando geram fama e aplausos – reforçou Oxalá. – Xangô já disse que está se normalizando o holofote como fonte de direito, assim como o autógrafo como substituto do acórdão.
– Fama que os fazem abandonar a missão de julgar – concordou Jaci. – Alguns entrando no mundo clandestino da corrupção, outros saindo em busca da aceitação pública.
– Será que eles estão esquecidos da advertência de Mateus em 7:1-2? – interrogou Emanuel. – “Não julguem, para que não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês”.
– Axé, Emanuel! O problema não é o julgamento feito quando as pessoas chegarem no Orum, pois lá a imparcialidade tem garantia. O que espero é que sejam julgados ainda como moradores do Ayê. – assentiu Oxalá. – A gravidade está quando não se pune no mundo terreno aquele que age com parcialidade, pois este gesto desmoraliza a Justiça, estimula o seu descumprimento e cria uma ambiência de abandono de direitos ou de lutas fraticidas.
– E por mais que Sumé se esforce, não há como convencer o cristão de que a nossa Themis está nua – brincou Jaci, parodiando o conto “A roupa nova do rei”, do dinamarquês Hans Christian Andersen.
– Daí o convite de meu Pai – externou Emanuel. – Ele quer ouvir, aprender, compartilhar e buscar soluções coletivas para que a Justiça impere na Terra. Não há Amor Universal sem Justiça! Não há Harmonia sem Justiça! Não há Esperança sem Justiça. Não há Vida sem Justiça!
– E não há Justiça sem julgamento imparcial – arrematou Jaci.
– Exato! – encerrou Emanuel. – Vamos receber com esperança e amor os nossos convidados e nossas convidadas que já estão chegando.
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