– Eles sabem que meu Pai proibiu o uso do templo para o comércio – falou, seriamente, Emanuel. – Mateus já escreveu em 21:12 que “A minha casa será chamada casa de oração”. Marcos também deixou bem claro em 11:15 que o templo não é mercado. Da mesma forma que Lucas fez em 19:46 e João em 2:28.
– O nosso povo também não fala com
Tupã através do templos, por isso compreendo quando disse uma vez que todo ser humano carrega o templo em seu próprio coração – concordou Jaci. – E olhe que nunca esqueci quando você, sabiamente, não caiu na provocação de alguns maliciosos e disse a eles: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é Deus.”
– Para a alegria de todo mundo que carrega o nome de Cesar – gargalhou, zombeteiro, Oxalá. – Devem achar que são donos de todas as coisas do mundo.
– Donos do mundo são aqueles que trazem a empatia no coração – suspirou
Emanuel. – “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia”. A eles devemos dirigir nossa proteção.
– Estou muito impressionada como estão ajudando, mesmo correndo o risco de morrerem pelo vírus ou pelo ódio negacionista – concordou Jaci. – Os profissionais da saúde são seres dignos de serem chamados de pajés.
– Omulú tem cuidado deles e também aquelas divindades que trabalham nos transportes públicos, nas farmácias, nos supermercados, nos restaurantes, nos servidos de entrega de alimentos e os que combatem as novas endemias – emendou Oxalá. – Elas cuidam para que as outras pessoas fiquem em casa, mesmo quando algumas destas, ingratas, não defendam que sejam incluídas nos grupos de risco.
– O meu povo bem sabe o que é ingratidão, Oxalá – retomou, triste, Jaci. – Muitos ricos ainda acham que os pobres, os negros e os índios sãos mercadorias baratas e substituíveis. Você lembra quando Tupã nos disse que já presenciou vários governantes organizando os mais diversos tipos de genocídios contra nós? Eu ainda choro quando lembro daquele desfile militar durante a ditadura brasileira, quando soldados carregavam vários de nossos irmãos presos e carregados em paus-de-arara, como se fossem animais selvagens.
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