É de John Kennedy a frase: “Quase sempre preferimos o conforto da opinião ao desconforto da reflexão.” A cegueira ideológica é uma praga que não pára de crescer. Funciona segundo a lógica de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Mesmo que ele seja um canalha. A forma como alguns partidos brasileiros que se autodenominam de esquerda encaram a atual situação venezuelana é uma prova viva disso. Se combatem os Estados Unidos e Maduro se opõe a Washington, logo Maduro merece apoio. Mesmo que Maduro seja um canalha.
Partidos brasileiros que até outro dia mereciam o apoio da população pelo seu histórico de lutas, embarcam sem rubor na defesa de posturas que namoram com a insanidade e vão pra cama com o autoritarismo, além de ultrapassarem o senso do ridículo.
A ditadura envergonhada da Venezuela
É impossível desconhecer os descalabros cometidos pelo ditador Nicolás Maduro ao longo dos últimos meses. A farsa da Constituinte composta por representantes escolhidos a dedo para apoiar o governo – em substituição à Assembleia Nacional, de maioria oposicionista – vem se revelando a cada dia de forma mais escancarada. Antes mesmo de sua convocação o povo foi às ruas condená-la. Ainda assim, Maduro manteve a decisão de promover uma eleição de fancaria, para dar um falso verniz democrático à “consulta”.
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Um café vale 60 tanques de gasolina!
Maduro tem cometido todas as arbitrariedades típicas de um governante em marcha batida rumo à ditadura escancarada. Até mesmo o bolsa-comida de lá vem sendo usada como arma política. A Venezuela enfrenta a mais grave crise econômica de sua história. Um cafezinho custa o equivalente a 60 tanques de gasolina!!! Você não leu errado nem eu escrevi errado: é isso mesmo – um cafezinho ou uma garrafa de água mineral custam o equivalente a 60 tanques de gasolina, principal produto de exportação do país. Confira aqui.
Moradores de Caracas estão usando receitas caseiras pra fabricar pasta de dentes e desodorante. Não contente, Maduro usa o bolsa-comida, única solução para grande número de famílias, como instrumento de opressão ideológica: a condição para receber o benefício é o alinhamento ao governo. Quem não apoia não come.
Mas, como Maduro, na linha do antecessor, Hugo Chávez, escolheu como alvo o “império” norte-americano, os partidos de esquerda brasileiros hipotecam-lhe apoio e solidariedade. É patético.
Mais de cem mortos até aqui
Maduro tem as mãos tintas com o sangue dos compatriotas. De vez em quando aparece um ou outro dissidente por aqui – como o deputado Jean Willys, do PSOL – para denunciar o descalabro.
A responsável por essa visão distorcida e insana tem nome e sobrenome: chama-se cegueira ideológica. Como dizia Kennedy, é muito mais fácil ficar com o conforto da opinião do que com o desconforto da reflexão. Os partidos que coonestam a farsa de Maduro e sua assembleia de araque sabem que devem e precisam mas não querem mudar de ideia. E não mudam. Doido é quem tem ideia fixa. Gente normal muda de ideia, evolui, avança. Mas, se o pior cego é o que não quer ver, o cego ideológico odeia quem quer enxergar.
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