O Brasil é um país abençoado. Chega a ser difícil imaginar uma riqueza que não tenhamos em abundância. E elas nos foram dadas sobre um solo praticamente livre dos desastres naturais que infernizam a vida de outros países.
Mas nossa riqueza não é apenas material – é também humana. Temos um dos bons povos do planeta, reconhecidamente criativo, esforçado, afável e solidário.
Foi graças à combinação de todos esses fatores que nossos ancestrais conseguiram contornar ameaças as mais sérias, no mais das vezes fruto da cobiça de povos estrangeiros, entregando às gerações contemporâneas um país digno de orgulho, com uma capacidade inimaginável de crescimento.
Foi quando, em nossa era, iniciamos um processo de degradação lento, quase que imperceptível, mas progressivo e constante, do potencial de crescimento da bela pátria que recebemos.
Nossos contemporâneos iniciaram esse processo quando, ao longo de diversos governos, optaram pelo transporte rodoviário em um país de dimensões continentais. A propósito, desconheço no mundo país com extensão similar à nossa que tenha optado por rodovias em detrimento de ferrovias ou portos. Para piorar, essa matriz é fornecida por empresas estrangeiras.
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Mas a bondade das gerações atuais para com o capitalismo estrangeiro não parou aí. Seguiu firme, promovendo uma segunda “abertura dos portos” – esta última, entretanto, de resultados calamitosos para um país que pretende se desenvolver.
Em verdade, o processo de desnacionalização da economia que se promoveu no nosso país, até onde pesquisei, não encontra paralelo no planeta!
Citarei um pequeno exemplo: há coisa de um ou dois anos planejou-se vender uma das maiores empresas privadas da França a um grupo norte-americano – um negócio absolutamente lícito. Mas eis que os poderes constituídos daquele país, de forma aberta e frontal, anunciaram ser aquela empresa uma joia do país, que não poderia ser vendida, e que tudo fariam para impedir o avanço das negociações. O resultado: a empresa continua francesa, e agora revitalizada.
Em nosso país o processo histórico contemporâneo foi diferente: nas últimas décadas incríveis 60% das empresas brasileiras negociadas foram parar nas mãos de estrangeiros.
Da indústria alimentícia à mineração, da comunicação à siderurgia, dos transportes à energia, o que o Brasil possuía de melhor foi vendido a grupos estrangeiros. Um país não pode se desenvolver verdadeiramente sob tais condições.
Em verdade, vejo sustentando nossa aparente pujança o remeter para fora, a preços aviltantes, riquezas as mais preciosas que temos, a maioria delas de natureza não-renovável. A conta dessa cegueira já começará a ser paga pela próxima geração – no ritmo atual de extrativismo, que só aumenta a cada dia, daqui a 82 anos não teremos mais minério de ferro para exportar. Nosso níquel só durará mais 116 anos, o chumbo 96, o nióbio apenas mais 35 anos, o estanho 80, os diamantes 123 e o ouro míseros 43. Sim, o Brasil da Serra Pelada será importador de ouro daqui a mínimos 43 anos!
Dizem alguns que o Brasil cresceu nas últimas décadas. Fico a me perguntar, e vai aí uma grande pergunta, quem tem crescido verdadeiramente – se o Brasil, exportador cada vez maior de riquezas em sua maioria não renováveis, ou se empresas aqui instaladas, com alguns poucos e evidentes reflexos positivos no nosso dia-a-dia e nas contas nacionais. Confesso não ter encontrado, ainda, resposta a essa pergunta…
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