Quando o escritor mineiro Guimarães Rosa nos brindou com “Grande Sertão: Veredas”, em 1956, cravou na história da nossa literatura e no imaginário da nossa gente uma verdade contundente e insofismável até os nossos dias atuais: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
É a partir dessa remissão literária que quero construir a minha análise sobre o caótico cenário que foi imposto ao País pelo desvario de um governante que promove no Brasil o mais escancarado desgoverno da história da nossa República. Basta ver os indicadores econômicos, sociais e de desrespeito à Constituição e à democracia.
O triste quadro que acompanhamos nas manifestações do 7 de setembro, por exemplo, com os já manjados e recorrentes ataques e ameaças que o presidente da República faz às instituições, numa pregação golpista e antidemocrática, nos convoca a todos a perseverar na luta em defesa da vida e da democracia.
Voltemos ao Guimarães: “o que a vida quer de nós é coragem”. E o povo brasileiro sempre demonstrou coragem, nossa história está repleta de exemplos e episódios, muito bem expressos do Hino Nacional ao samba enredo da Império Serrano: “um filho teu não foge à luta”. E não será agora!
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Nosso dever de esperança com a nossa gente está mais do que na ordem do dia. O brasileiro tem coragem.
Sou adepto da leitura de que as manifestações do 7 de Setembro foram frustrantes diante do que pretendia o governo e seus mais radicais apoiadores, visto o volume de recursos empregados e mesmo pelo esforço de preparação. Foi pífio o resultado.
Teve gente sim, mas concordo com a opinião de analistas políticos de que a dimensão das manifestações desaconselha qualquer tentativa golpista. O apoio a essa intentona não ultrapassou a bolha do fanatismo daquele que, apesar de eleito, sequer “tomou posse” e não deu ainda um dia de serviço útil em prol do País.
Não cogitamos desistir do Brasil, nem da luta em favor da nossa gente. Incorporamos na prática cotidiana o refrão do Chico Buarque, pois “apesar de você, amanhã há de ser um outro dia”. Apesar dos descalabros do presente, nosso País tem força e disposição para avançar na busca do desenvolvimento e da repartição da riqueza com todos os brasileiros. Notadamente aqueles que, hoje, mais sofrem com a desassistência e o desamparo pela inexistência de políticas públicas que lhes assegurem o emprego, a renda, a educação, a saúde, enfim, que lhes cumpra o preceito constitucional do direito à cidadania, no seu mais lato sentido.
Precisamos acreditar na recuperação da nossa dignidade enquanto Nação. Precisamos retirar os 14 milhões da fila do desemprego. É urgente que tracemos nossa rota para estimular a produção econômica, para garantir a preservação do meio ambiente e, sobretudo, cerremos fileiras que nos imunizem contra arroubos totalitários e de extremo desrespeito à vida e à democracia.
Nosso dever de esperança nos remete a olhar os desafios como a oportunidade de nos reencontrarmos como um só povo, com os ódios aplacados e o sentimento de fraternidade aflorado e mirando para o futuro. O meu Estado, o Ceará, aposta nisso já há algum tempo. Um exemplo está nos nossos indicadores da Educação, o setor vital para o futuro. Nove das 10 melhores escolas do Brasil são do Ceará, num ranking do Ideb que tem como base notas das escolas de 1º. ao 5º. ano. As nove são públicas. Isso é mirar no futuro com o dever da esperança.
Como definiu o meu conterrâneo Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, o nosso querido Belchior, numa mensagem que parece direcionada ao ocupante atual do Planalto: “É você que ama o passado e que não vê que o novo, o novo sempre vem”. Resistimos, com esperança, porque não nos faltará a coragem.
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