A causa da saúde é universal. Superior a fronteiras e ao próprio tempo, nunca a soube desafiada abertamente por quem quer que seja. Ao fim do cabo, quem seria contra a saúde?
Nos idos de 2020 instalou-se no planeta pavorosa pandemia. Um ano depois, diante de uma realidade sombria no que tange à distribuição de vacinas, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou uma proposta para vencê-la: através de um aporte total de US$ 50 bilhões, 40% da humanidade seriam imunizadas em 2021 e o restante em 2022.
O problema, claro, é o montante: US$ 50 bilhões é muito dinheiro. Ou não? Mais ou menos na mesma época divulgou-se em Genebra, na Suíça, um chocante relatório segundo o qual os gastos com armas nucleares cresceram durante a pandemia!
Transcrevo um parágrafo que fala por si só: “Enquanto leitos hospitalares recebiam pacientes, médicos e enfermeiras se sacrificavam e suprimentos médicos básicos começavam a escassear, nove países encontraram mais de US$ 72 bilhões disponíveis para suas armas de destruição em massa”. Perceba que falamos apenas de armas nucleares e de nove países representativos de uma humanidade para a qual a saúde sempre foi – e é – prioridade absoluta.
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A América Latina, uma das áreas mais afetadas, gastou somente em 2008 US$ 51 bilhões em armamentos. Daria para resolver o problema da pandemia e ainda sobraria algum para o cafezinho. Globalmente foram US$ 1,83 trilhão em 2020 – o suficiente para debelar mais de 36 pandemias.
Não faz muito tempo li acerca de um cálculo do Banco Mundial no sentido de que a corrupção, e só ela, desvia cerca de US$ 1 trilhão a cada ano pelo planeta afora – o suficiente para resolver umas 20 pandemias.
Será assim, de exemplo em exemplo, muitos deles acontecendo ali na esquina, que perceberemos uma dura realidade: o horror não é econômico – é moral. A crise não é financeira – é de liderança. O problema não é material – é espiritual. E sua solução não passa por mais do mesmo do que temos visto – antes, demanda uma discussão ampla sobre temas conceituais.
Até lá, diante deste quadro, fico a pensar se não seriam aplicáveis as palavras de Margareth Thatcher, pronunciadas quando da passagem dos 200 anos da Revolução Francesa: “não há o que comemorar; a única mudança é que, após ela, a patuleia passou a chamar-se povo”.
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