A proximidade do Natal provoca ações positivas nas pessoas. O irretorquível exemplo de Jesus Cristo, animado pelo carisma do velho Noel, faz da solidariedade uma mensagem universal. Campanhas destinadas aos “sem” se destacam em todos os cantos e pontos. É raro não encontrar uma campanha ou caixinha destinada a provir o Natal dos destituídos de bens ou esperanças. A lógica é simples: os que têm, mesmo que um pouco, ajudam os milhões de “sem”. Promessas de um “Natal sem fome” e de “criança sem carência ou sem a tristeza pela ausência de um presente” são propostas marcantes do bom espírito natalino.
É comovente o gesto carinhoso de doação nesta data tão cativante. Os anônimos e os exageradamente assumidos se unem no mesmo ideal solidário, mesmo que com visões de mundo distintas. Até os amigos secretos são revelados nas milhares de festas de confraternizações. Amizade e solidariedade são embrulhadas nos presentes, conferindo um toque especial ao já especialíssimo dia.
Pena que o milagre do Natal tenha dia e hora para começar e acabar. Apenas exatas vinte e quatro horas por ano são dedicadas ao esforço universal de amar o próximo. Dois mil e onze dias de Natal não serviram ainda para criar um sentimento permanente de solidariedade entre os homens. Os que “têm” e os “sem” continuam se encontrando apenas uma vez por ano.
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Nos demais dias, os “sem-teto” buscam abrigo nas marquises dos palácios, sonhando que seus moradores despertem do sono eterno provocado por uma apatia proposital. Os “sem-terra”, que não mais sonham em ver a terra dividida, gritam palavras surdas, pois nunca ouvidas. Os “sem-trabalho” ocupam o tempo garimpando os classificados em busca de empregos que não surgem. Os “sem-escola” qualificam-se nos liceus da vida, ainda que esta não tenha sido bem-vinda. Crescem até os “sem-coragem”, que se escondem no anonimato para assacar contra a honra de pessoas dignas. São tantos os “sem” que fico sem espaço para apontá-los aqui.
Bem que este Natal poderia ser diferente. Quem sabe o Natal da virada, aquele que, por ser tão bom, se tornou eterno. Não é difícil manter a chama da solidariedade, se ela nos faz bem. É só acreditar no poder de reinventar o calendário oficial, inscrevendo na folhinha que todo dia é Natal. Imaginem sermos despertados com gestos de amizade para, à noite, dormirmos embalados pelo sono da solidariedade. O ter-compartilhado seria o grande presente de Natal concedido à humanidade.
“Natalizar” diariamente o Natal, é reinventar a vida, pois, como nos presenteou Cecília Meireles, “a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada”. Mas não esperemos até o Natal para reinventar a vida, afinal “já choramos muito, muitos se perderam no caminho, mesmo assim não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera”. Que a música de Beto Guedes, ilumine o nosso agora diário espírito natalino, fazendo com que todos os dias sejam de amor e solidariedade.
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