Certa vez ouvi histórias sobre um antigo lobista que costumava jogar golfe. Acordava cedo e ficava boa parte da manhã entre uma tacada e outra. Ali ele fez amizade com um senador, com quem sempre discutia política e conversava sobre os temas da pauta de momento. Frequentar o campo, para ele, não era apenas um hobby prazeroso, mas também um processo de trabalho. Ali naquele momento, ele tinha a atenção quase que exclusiva e em clima ameno com o policy maker e podia defender os temas de interesse dos seus representados.
Se a história é verdade ou não, o fato é que esse “processo operacional” já teve seu tempo de ouro e rendia bons resultados quando a política era (bem) menos complexa, havia menos temas, menos players, tudo andava num ritmo muito mais lento e, principalmente, não havia a internet. Essa tal internet das coisas, que entrou nos nossos relógios, carros, roupas e até roupas, entrou também na política. No Brasil, ajudou até a eleger nosso presidente! Por que imaginar que com o lobby seria diferente?
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A consultoria McKinsey divulgou estudo onde avalia que os métodos mais populares para avaliar potenciais riscos políticos são frequentemente os menos eficazes. Os mais utilizados ainda são análises geradas internamente (ex: relatórios de país, relatórios de mercado trimestrais), diálogos com especialistas e fontes externas especializadas (ex: relatórios de think-tanks). Mas o que demonstra ser mais efetivo são metodologias de compreensão de cenários integradas no planejamento estratégico. Segundo o estudo, técnicas de gerenciamento de dados são uma tendência cada vez importante. Mais da metade dos executivos entrevistados afirma que suas empresas estão lidando com a adoção de técnicas de gerenciamento de big data.
A inovação distingue entre um líder e um seguidor (Steve Jobs)
No artigo Going digital: innovation in advocacy and Government Relations, Lucas Veiga analisou 28 empresas de lobby no Canadá para avaliar a adoção de ferramentas digitais em suas estratégias. Das empresas canadenses, 60,7% incluem ferramentas digitais em seus serviços. Entre essas, 62,5% o fazem sob serviços de lobby e advocacy. Os outros 37,5% oferecem ferramentas digitais sob outros tipos de serviços, como gerenciamento de crises e reputação, comunicação, relações com a mídia e desenvolvimento de negócios.
Em O impacto da tecnologia para o mundo de Relações Governamentais, Ivan Ervolino e Danilo Oliveira analisam o impacto da tecnologia para o mundo de RelGov. Para eles o lobby avança passo a passo com o amadurecimento democrático e à medida em que dados ficam cada vez mais disponíveis e compreensíveis, surge a necessidade de potencializar o monitoramento da atividade legislativa. A pesquisa que desenvolveram chegou a dois resultados importantes. O primeiro mostra que 73% das dificuldades em monitoramento, inteligência e gestão legislativa são de atividades que podem ser automatizadas. O segundo resultado aponta enormes ganhos de performance: o uso de ferramenta digital especializada traz economia de 75% do tempo médio gasto nessas atividades.
David Rehr, professor de Advocacy na George Mason University e profissional com mais de 25 anos de experiência, mostra em seu artigo How Is Social Media Being Used In Advocacy?, que as mídias sociais são uma ferramenta cada vez mais utilizada para obter os resultados na defesa de interesses políticos. E que seu uso aumentou exponencialmente nos últimos anos com organizações sem fins lucrativos, associações comerciais, sindicatos e grupos cívicos potencializando sua atuação para levar adiante suas agendas. A pesquisa de Rehr demonstra que organizações de advocacy nos EUA usam uma variedade de mídias sociais, mas o Facebook e o Twitter dominam. Segundo ele, as mídias sociais na defesa de interesses veio para ficar.
No mundo todo percebemos que grupos de interesse tendem a usar serviços digitais para potencializar sua capacidade de influência. Seja no monitoramento da produção normativa, na inteligência política, no mapeamento e gerenciamento de stakeholders, na análise de tendências e de riscos, no gerenciamento de temas críticos, na avaliação compartilhada e colaborativa de políticas públicas, na gestão das atividades operacionais, na gestão dos relacionamentos e por aí vai.
No exterior existem exemplos de plataformas digitais com serviços que dão suporte ao lobby: FiscalNote, TSC.ai, Quorum Analytics e InfluenceMap são exemplos da aplicação de ferramentas digitais para lobby e advocacy. No Brasil, o InteliGov oferece monitoramento legislativo e inteligência de governo e o SIGALEI traz monitoramento, inteligência e estratégia para Relações Institucionais e Governamentais.
A simbiose da política e do lobby com a tecnologia é um fato. Usar suporte digital para inteligência permite gerenciar uma montanha de dados que não seriam visíveis ao olho humano e permite verificar tendências com melhor acuracidade. Gerenciar temas críticos toma uma nova dimensão, muito mais técnica e baseada em evidências. Gerenciar stakeholders ganha mais horizontalidade de informação entre o time e traz mais agilidade na tomada de decisão estratégica. A articulação, já mais bem embasada por todas as ações anteriores, fica ainda mais eficiente tanto em assertividade quanto no timing.
Jogar golfe pode ser divertido. Mas hoje não é mais suficiente.
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>> Advocacy: uma causa para chamar de sua
>> Experiências nacionais e internacionais em lobby e em políticas públicas
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