Em 2015, iniciamos o ano com um fato político novo. Em função da rápida deterioração do apoio à Dilma, fruto da crise econômica, das investigações da Lava Jato, da sensação de um verdadeiro estelionato eleitoral e do reposicionamento do PMDB, a Câmara dos Deputados assumiu um protagonismo inédito e desencadeou discussões de uma agenda própria de interesse da sociedade.
Emergiram discussões sobre a regulamentação do trabalho terceirizado, a reforma política, o Pacto Federativo, a chamada PEC da bengala, a revisão do Estatuto do Desarmamento, a lei de responsabilidade das estatais e a redução da maioridade penal.
Em relação à maioridade penal havia um enorme expectativa social em torno de respostas novas e firmes a crimes violentos, alguns com requintes de crueldade, cometidos por menores de 18 anos, com grande repercussão na mídia e na opinião pública.
De pronto é preciso esclarecer que, embora as estatísticas sejam precárias, as evidências apontam que o número de crimes cometidos por adolescentes são um percentual muito pequeno do total. E que os crimes hediondos cometidos por eles, que revoltam a todos nós, são a extrema exceção.
Não podemos ainda esquecer as determinantes sociais da criminalidade e a trágica situação de nosso sistema penitenciário. Não podemos misturar jovens que furtam um celular ou são reféns do tráfico de drogas, e que podem ser recuperados, com jovens extremamente violentos e com graves deformações comportamentais que praticam assassinatos revoltantes. Levar indiscriminadamente adolescentes para o enquadramento no Código Penal e matricula-los nas “Universidades do Crime” do sistema prisional será grave equívoco.
Hoje os adolescentes que cometem crimes são punidos pelas regras previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que foi um avanço. O problema é que sua implementação encontrou graves limitações gerenciais e financeiras e não deu conta de punir adequadamente os jovens que cometeram crimes graves e violentos.
Diante da cobrança da sociedade, a discussão se instalou. Três campos se delinearam. O PMDB e muitos representantes parlamentares ligados às forças policiais defendendo a redução linear da maioridade penal para todos os jovens infratores maiores de 16 anos. O PT e várias entidades refratários a qualquer mudança substantiva.
Diante da ameaça de configuração de um ambiente maniqueísta, tipo “Atlético x Cruzeiro”, e considerando como muitos já disseram que na maioria das vezes “a virtude está no meio”, o PSDB apresentou a proposta de redução da maioridade apenas para crimes hediondos e graves, nos termos da PEC do Senador Aloysio Ferreira Nunes, somada à mudança do ECA, tornando suas regras mais rígidas, dentro da configuração proposta pelo Governador Geraldo Alckmin, conjugadas com o Projeto do Senador Aécio Neves que triplica a pena para adultos que usarem menores para a prática de crimes.
Essa será a discussão nas próximas semanas.
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