Há quase cinquenta anos, pais e mães cearenses se encontram no Centro de Fortaleza para a troca e venda de livros usados, como forma de atender, a cada ano, demandas escolares de seus filhos. Estamos falando de livros didáticos e paradidáticos, numa prática que ajuda no controle do orçamento doméstico e que permite garantir aos nossos filhos o contato com um revolucionário instrumento do saber.
É por que é tão importante assegurar o hábito do manuseio de um livro para as nossas crianças? Por que é tão vital estabelecer essa conexão ainda na fase infantil dos nossos filhos?
Teremos, amanhã, a data comemorativa do Dia Nacional do Livro Infantil que é festejada no dia 18 de abril como uma homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato que escreveu, em sua carreira literária, 26 títulos voltados ao público infantil.
Considerado o patrono, o pai da literatura infantil brasileira, Lobato tornou-se definitivo, foi um divisor de águas na história da literatura infantil e juvenil para o nosso País, infelizmente ainda muito iletrado.
A obra de Monteiro Lobato trouxe as inovações que até hoje a prosa literária faz prevalecer como modelo de uma literatura comprometida com a infância e a ludicidade.
Leia também
Em uma de suas afirmações mais conhecidas e assertivas, Monteiro Lobato disse que “uma nação se faz com homens e livros”. Essa já era, a seu tempo, a advertência do escritor para lembrar da importância da leitura na construção de uma identidade social e de como devemos imaginar o caminho de desenvolvimento de uma nação.
Numa rápida pesquisa sobre o escritor, temos registro de algumas de suas falas como a de que “nem toda criança tem em sua casa livros para serem manuseados ou lidos pelos adultos a eles, é muito importante que as crianças tenham contato com os livros mesmo quando ainda não sabem ler. A escola é o lugar onde a maioria dos alunos tem maior acesso aos livros do que em outros ambientes”.
Lobato aprendeu a ler e escrever com a mãe, mas foi com o avô, o Visconde de Tremembé, dono de uma ampla biblioteca, que passou a ter gosto pela leitura e amor infinito pelos livros infantis.
Pelo tempo que vivemos hoje no Brasil, fica fácil identificar a magnitude de nossas carências advindas do pouco manuseio e aprendizado a partir do que está contido em livros ou, para não nos distanciarmos das tecnologias da modernidade, dos e-books e seus similares.
Nosso País lê pouco e nossos compatriotas conhecem menos ainda da história contada nos livros. Tanto é verdade que até a historiografia oficial sofre, insistente e presentemente, os mais vis ataques da adulteração de fatos e as recorrentes edições de “sigilos” oficiais.
Um relatório inédito do Banco Mundial, por exemplo, aferiu como estimativa que o Brasil vá demorar 260 anos para atingir o nível educacional de países desenvolvidos em se tratando de leitura.
Este é um dado nada animador, alarmante, principalmente levando-se em conta os exemplos emanados das estruturas de governo que devem cuidar das políticas públicas de educação, incluída aí a leitura, onde o conceito de balcão de negócios passou a ser a tônica das narrativas no mais deplorável dos exemplos da política do “toma lá dá cá” que, infelizmente, impera nas esferas da República, com a vergonhosa “intermediação” de quem se proclama líder religioso.
Vale destacar que o hábito da leitura, conforme pesquisa realizada pela Agência de Leitura Inglesa, é importante para exercitar as capacidades de comunicação, interpretação e de cognição das pessoas, além de reduzir o nível de estresse em até 67%. Ler estimula intensamente a nossa criatividade e a inteligência.
Portanto, como bem defendeu o professor Daniel Arruda, “o acesso ao livro, seja impresso ou digital, deveria estar na pauta da discussão de qualquer governo coerente com um projeto de nação que vise educar e qualificar a população”.
Nesse sentido, e sem poder afirmar que a frase é do romano Caio Graco ou do gaúcho Mário Quintana sobre a importância dos livros, reitero a minha crença de que “os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. Assim, podemos pensar em mudar uma cidade, um país e o mundo, modificando as pessoas pela leitura, transferindo o conhecimento que as permite corrigir os erros históricos, como o que vivemos hoje no Brasil, movido pela truculência, intolerância e até mesmo pela ignorância.
A publicação de “Retratos da Leitura no Brasil” já revelava que a maioria da nossa população não tem o hábito de ler. As estatísticas desnudam que 74% dos brasileiros nunca compraram um livro e 30% nunca leram uma obra. E pior, mesmo que mais da metade da população brasileira se considere leitora, não chega a ler cinco livros por ano, mais da metade quando lê, ainda lê incompleto.
São dados que chocariam o personagem Mister Slang, filósofo inglês que dialoga com o nosso País na obra de Monteiro Lobato.
Se o poeta cubano José Martí afirmou que “um homem na sua vida deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro” como forma de transcender o seu tempo e espaço, deixando um legado em que sugere que a nossa passagem pela Terra fica marcada por uma herança que deixamos para o mundo, o fato é que o nosso atual quadro de indigência cultural na leitura em nosso País nos desafia a editar bibliotecas, plantar florestas e adotar a humanidade!
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário