De uns anos para cá, o povo brasileiro tem sido seduzido diuturnamente por um canto de sereia denominado “globalização”. O noticiário não cessa de enumerar os encantos e vantagens do livre-comércio e da queda de barreiras, formando neste sentido a opinião de todo um país.
Não importa se nossas empresas estão quebrando por conta da concorrência desleal de estrangeiros, ou se a eles estão sendo vendidas por preços no mais das vezes humilhantes – tudo é tratado como mero “efeito colateral” de um processo mais amplo, que busca estimular a competitividade.
Não interessa, igualmente, se nossas riquezas minerais não-renováveis estão sendo exportadas a preço de banana – tudo fruto de uma certa “economia de mercado”, que ninguém entende bem como funciona, mas cujas supostas virtudes nos são empurradas pela goela abaixo todos os dias.
Sim, o que importa é que somos emergentes e participantes desta nova e fascinante aldeia global, por meio da qual passamos a ter acesso ao que o planeta produz de melhor!
Fiquei a pensar nisso hoje. Recebi um e-mail de uma empresa norte-americana anunciando a chegada ao Brasil de um novo modelo de computador portátil – realmente uma maravilha da tecnologia – recentemente lançado.Entusiasmado, consultei o sítio eletrônico da filial brasileira. Constatei, horrorizado, que o preço do dito cujo é de precisos R$ 21.599,00 – US$ 6.400,80 pelo câmbio de hoje. Decidi ver por quanto a mesma empresa vende o mesmo computador lá nos EUA. Encontrei o valor de US$ 2.899,00 – R$ 9.782,45, ou menos da metade, com todos os impostos incluídos.
Uma tão brutal diferença não a explica a incidência de tributos (que, recordo, estão incluídos no preço cobrado nos EUA). Não a justifica qualquer despesa de transporte. Não a torna compreensível qualquer “custo-Brasil”. O abismo é grande demais para ser acomodado em qualquer desses argumentos, ou mesmo na somatória de todos eles.
Olho pela janela e vejo nosso precioso minério de ferro indo embora, a troco de uns US$ 52 a tonelada – precisamos de 123 toneladas dele para adquirir um “notebook” na parte de cá desta “aldeia globalizada”.
Com o espírito cabisbaixo, desisto de adquirir um espetacular instrumento de trabalho – ficarei mais alguns anos com meu computador velho, me perguntando a cada dia se somos otários!
Deixe um comentário