*Professor Israel
O algoritmo das redes sociais está nos partindo? Como sociedade, caminhamos para uma
direção na qual muitos de nós não sabemos mais diferenciar as teorias da conspiração dos
fatos científicos. Estamos quebrados ou será que ainda temos conserto?
De um lado, temos o que há de mais moderno na tecnologia sendo usado em um esforço
internacional jamais visto de cientistas em busca de uma vacina. De outro, temos tecnologias
que já ajudaram a transformar o mundo para melhor, amplificando narrativas falsas, capazes
de minar todo esse trabalho coletivo em prol da saúde pública. As fake news não são novidade,
mas a escala e o alcance que as redes sociais e as plataformas de mensageria privada
proporcionam a grupos e indivíduos focados em semear mentiras, e seus efeitos práticos, não
podem ser ignorados.
Se antes o abuso dessas tecnologias digitais era dirigido para polarizar a nossa sociedade
politicamente, agora, o objetivo é causar uma verdadeira cisão intelectual entre as pessoas por
meio de artigos e vídeos que tentam nos convencer de que a terra é plana ou, como já vimos,
que vacinas são perigosas.
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A história nos mostra que, quando as lideranças de uma nação se ausentam, outros atores
preenchem seu lugar e os efeitos podem ser desastrosos. O interesse do povo geralmente é a
primeira vítima. Além de todos os desafios sociais e econômicos, o Brasil vive ainda uma crise
de confiança em suas instituições.
Neste contexto, as redes sociais podem se tornar uma bolha no qual podemos passar horas
navegando e enxergando apenas as mesmas opiniões, nos oferecendo apenas pontos de vista
com os quais concordamos, ainda que sejam baseados em negações da realidade empírica.
Em meio a uma pandemia sem precedentes, as fake news não são somente uma questão de
saúde pública – são um problema legislativo. E a população sabe disso. Dados de uma
pesquisa IBOPE recente revelaram que 89% dos brasileiros querem que uma lei contra as fake
news. É desejo também de 81% dos brasileiros que as plataformas de redes sociais sejam
obrigadas por lei a mostrar os fatos a todos que receberam ou viram uma fake news ou
desinformação, ajudando a furar essa bolha.
A classe política brasileira tem nas mãos a oportunidade única de atender à demanda dos
brasileiros e agir para que a desinformação não nos despedace ainda mais. Ao incluir na Lei
das Fake News a obrigatoriedade da apresentação de fatos científicos, podemos garantir a
liberdade de expressão dos usuários e promover ao mesmo tempo o direito ao contraditório, a
valorização da imprensa profissional, das agências de checagem e das informações veiculadas
por órgãos científicos e sanitários. É notório o avanço que algumas plataformas têm tido no
combate à desinformação, e muitas delas já têm inclusive testado esse modelo. A Lei das Fake
News pode garantir um marco regulatório democrático para que elas possam ampliar essas
medidas a todos os usuários das redes.
Isso, somado a uma revisão curricular que inclua educação midiática, pode auxiliar os
brasileiros e brasileiras a desenvolver um senso crítico mais apurado para a era digital, e
ajudar a população a fazer um uso mais seguro, responsável e consciente da internet.
Precisamos de um debate cuidadoso e técnico, e da aprovação de uma lei sólida, que proteja
nossos direitos democráticos e garanta um ambiente on-line aberto e saudável para todos.
Enquanto esperamos que a ciência desenvolva uma vacina segura contra a COVID-19, nós,
legisladores, precisamos começar a vacinar os brasileiros com medidas eficazes contra as fake
news para que nossa saúde e democracia não sejam colocados ainda mais em risco.
*Professor Israel é deputado federal pelo PV-DF, cientista político, professor de História e
Atualidades, além de deputado distrital por dois mandatos.
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