Pablo Marçal degrada a já combalida cultura política, eleitoral e cívica do país. Candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRTB, não detém a mínima condição de compreender as necessidades da cidade, propor soluções adequadas e agregar pessoas em torno de projetos. Usa a tribuna para fazer provocações baratas, comentários sem valor. Seu conteúdo e sua forma são antipolítica e nada mais. Ele é a quintessência de nosso populismo autoritário de direita.
Marçal criou-se na selvageria da internet, naquela infinita terra do vale tudo pela atenção. Lá ele é um vencedor, elevado ao pódio pelo único critério que rege tal mundo, o número de seguidores. Seu modo de fazer política segue assim seu restrito aprendizado, a gramática das redes sociais.
Lacração, simplificação, provocação, memes, mentiras, fortes emoções negativas, tudo isso prende a atenção e surfa nos algoritmos das irresponsabilizadas redes sociais. Política se torna venda de cursos charlatões, pornografia barata, oferta de quinquilharias chinesas.
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Não se pode falar em democracia, em poder do povo, sem se considerar o demagogo. Ele é o oportunista que agrada as massas com o discurso que ela deseja ouvir, seja qual for. Marçal é o hiperdemagogo do dia de hoje. Melhor do que outros ele sabe veicular na novidade do mundo digital, das redes sociais e da economia da atenção, sua mensagem atraente e enganadora.
Agradar as massas a qualquer custo é danoso, pois gerir a coisa pública exige mais do que aprovação imediata. Demanda cuidar do curto assim como do longo prazo, lidar com o problema aparente e também com aquele potencial e, muito importante hoje, respeitar os grupos e interesses minoritários da sociedade baseado nos princípios impostos pela Constituição. Conquistar aprovação na internet difere de governar um povo e uma cidade.
Diante do estrago que Marçal faz ao Brasil surge a questão de quem deve pará-lo, quem deve “limpar” a política deste irresponsável, improdutivo e de honestidade duvidosa. Para alguns a resposta passa pela criação de regras adjudicadas a um árbitro, um poder superior que reestabeleça os bons valores.
O Brasil, desde o século 19, abraçou de maneira contraditória o ideal da modernidade. Diante da terra atrasada da ignorância, do favor e do patrimonialismo, uma elite encantou-se com o império da lei, a igualdade formal de todas as pessoas, o respeito ao indivíduo e a promoção de seu desenvolvimento livre. Essa elite, contudo, sobrepôs as imagens elegantes vindas da Europa e dos EUA à sua própria prática de favores, patrimonialismo, hierarquias e subordinações nunca abandonada.
O Judiciário brasileiro sempre foi uma terra de distinção simbólica e material para seus membros. Instância entremeada de favores, benesses e prioridades a seus membros, elevados muito acima do cidadão comum, a ralé. Nossos políticos, que ao menos passam pelo crivo periódico das eleições, em regra se veem tais quais os membros do Judiciário. Assim, não existem os pretensos árbitros de valores superiores por faltar-lhes entre nós consistência e coerência. O déspota esclarecido no Brasil sempre se despiu do esclarecimento e abundou em despotismo. Não são esses questionáveis árbitros que devem fazer leis e aplicar regras para nos livrarem dos marçais da vida.
Cabe à sociedade, na urna e no debate livre e plural, despachar Pablo Marçal e os próximos monstros demagogos para o ostracismo. São as ideias, valores e atitudes da população brasileira que devem expelir da arena eleitoral sujeitos desqualificados como esse. Nossa sociedade precisa aproveitar o circo do irresponsável e do ridículo da eleição em São Paulo para aprender mais uma vez que seus interesses dependem da qualidade de suas escolhas.
Precisamos aprofundar a democracia, fortalecê-la, continuar um trabalho e seguir uma trajetória bem longa e nunca terminada. É a sociedade com sua força conjunta e a autoridade de sua voz quando fala em uníssono que deve livrar-se de Pablo Marçal. É povo que deve expulsar seus parasitas.
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