É possível sobreviver à CPI, mas enfrentar os servidores é receita para derrota
Não se iludam, porque a CPI não derrubará o presidente. No entanto, um papel importante está sendo cumprido, desgastando a imagem do Chefe do Executivo, expondo irregularidades, desvios, tráfico de influências, negociatas, propinas e criando materiais robustos que documentam toda a irresponsabilidade do governo no enfrentamento à pandemia. Todos esses fatos, são confirmados pela última pesquisa do Datafolha do último dia 8 de julho que apontam rejeição recorde de 51% de Bolsonaro.
O capítulo final da derrocada deste governo acontecerá caso a PEC 32, que trata da reforma administrativa, passe no Congresso. Frentes Parlamentares em defesa do serviço público foram organizadas, como o caso da Servir, presidida pelo Deputado Professor Israel do PV-DF. Apesar do volume expressivo de integrantes, não estava sendo possível conseguir apoios importantes na virada de votos. Esse jogo já mudou.
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Parlamentares que antes eram dados como votos certos no apoio à PEC 32, de centro e de direita, como o Deputado Aguinaldo Ribeiro, do PP-PB que votou contra na própria CCJ – Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania – e o Deputado Capitão Wagner, do Pros-CE que tem muito alinhamento político, mas decidiu ser fiel à sua base, do que ao Governo.
Outro personagem importante é o Deputado Paulinho da Força, presidente nacional do Solidariedade, que não costuma tomar posições em direcionamentos diretos da bancada, mas que declarou em alto e bom som que é contra a PEC 32, colocando os colegas de partido numa posição de segui-lo nesta pauta específica.
Com uma popularidade expressiva, o Deputado Túlio Gadelha do PDT-PE, que não faz parte de nenhuma frente parlamentar específica sobre o tema e até pouco tempo atrás não havia se manifestado formalmente, declarou-se contra a reforma administrativa e deixou explícito na descrição da página pessoal em uma rede social com duas enormes marcações em vermelho com o texto “Não à PEC 32”. Uma declaração de um deputado com tamanha exposição, pode influenciar a opinião de seus mais de 1,3 milhão de seguidores nas redes sociais, por exemplo.
PublicidadePara sacramentar a influência contra a PEC 32, em franco crescimento nas pesquisas para a corrida presidencial em 2022, o ex-presidente Lula se reuniu com o presidente da Servir Brasil recentemente e se declarou contra a reforma administrativa.
Todo esse cenário se concretiza num cálculo político desastroso. Houve um compromisso por parte do Ministério da Economia ao mercado financeiro que essa reforma aconteceria e pode ser amplamente comprovada por declarações do próprio ministro em eventos do setor. Caso não aconteça, haverá uma frustração dos agentes econômicos que já criaram essa expectativa.
A outra questão não é se a PEC 32 vai caminhar ou não, mas como. Se a reforma caminhar de forma ampla, envolvendo outros poderes, o governo arruma um problema com todos os setores do poder público, sem exceções, e atualmente não conseguiria sustentar tamanha pressão. Por outro lado, segmentando e colocando apenas algumas carreiras, excluindo alguns poderes e até militares, a pressão será concentrada dessas carreiras impactadas, devido ao sentimento de injustiça que tomará conta dos servidores.
Vale ressaltar que o Brasil tem mais de 11 milhões de servidores públicos, entre municipais, estaduais e federais. Sendo a média da família brasileira de 3 pessoas, são 33 milhões de votos que ele não poderá mais contar. Com a perda de apoio de personagens importantes da base, que não vão se arriscar a perder tamanho apoio, o caminho é um só: o presidente vai sobreviver à CPI da Covid, mas a PEC 32 vai acabar de enterrar qualquer chance de reeleição de Bolsonaro.
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