O Governo Federal, com aval do congresso nacional, subsidiará em mais de R$ 45 bilhões o consumo de combustíveis fósseis para conter aumento de preços às vésperas de eleições.
Nossas autoridades, do executivo e do legislativo, iludidas pela “normalização” do absurdo que reina na nossa sociedade em relação ao tema das mudanças climáticas, estão abduzidas pela força eleitoral e perderam a (se é que tinham alguma) noção de responsabilidade climática.
Vários analistas afirmam que não é certo que vamos de fato segurar o aumento dos combustíveis mesmo com essa irresponsabilidade fiscal, posto que os fatores externos são determinantes para o aumento de preços do petróleo em todo Planeta.
É sabido que quem mais consome combustíveis fósseis não são os mais pobres. São os mais ricos, os mesmos (1%) que são responsáveis por mais de 50% de todas as emissões globais de CO2, e que não usam transporte coletivo, nem bicicleta para trabalhar, nem viajam de ônibus ou de trem e que serão os mais beneficiados economicamente com a medida eleitoreira.
Leia também
No momento em que mais precisamos de investimentos em quantidade e qualidade em Ciência, Tecnologia e Inovação, para que o Brasil não perca mais um bonde da história a USP, Unicamp, Unesp perderão mais de R$1 bi com os subsídios aos combustíveis, sem falar nas universidades em outros estados.
Enquanto isso o setor mais prejudicado com as mudanças climáticas no Brasil, o responsável pela maior parte das emissões brasileiras de gases de efeito estufa (75%), o agronegócio brasileiro, pressiona por meio de seus representantes políticos no Congresso Nacional pela aprovação em regime de urgência do “Pacote da Destruição”: PLs do Veneno, do Licenciamento Ambiental, Mineração em Terra Indígena, Marco Temporal, mais anistia no Código Florestal, e prêmio para a Grilagem de terras e desmatamento de florestas públicas. Lideranças políticas insistem em ignorar que as chuvas que abastecem mais de 70% da nossa agropecuária em todo Brasil vem em grande medida das nossas florestas e cerrados que seguem sendo derrubadas ilegalmente a largos e crescentes passos.
Na Mata Atlântica o aumento do desmatamento foi de 66% e perdemos mais de 20 mil hectares somente em um ano, dessa vegetação que constitui nossa principal arma para nos proteger do aumento das temperaturas locais, dos desmoronamentos e deslizamentos em morros, causa da perda irreparável e inestimável de mais 130 vidas humanas de brasileiros e brasileiras (adultos e crianças) só nas últimas semanas em Pernambuco. E a conexão disso com a crise climática está mais que comprovada pela melhor ciência disponível.
Depois de sete anos de secas que vem causando perdas irreparáveis a um dos biomas úmidos mais ricos do Planeta, depois de mais de 25% de seu território ter sido literalmente incendiado, a soja, uma das principais comodities de exportação do Brasil, avança sem timidez sobre parte do que resta do Pantanal.
A colheita até agora, no Brasil “Celeiro do Mundo”, são mais de 30 milhões de brasileiros (15% da nossa população) passando fome ou não conseguindo garantir segurança alimentar para sua família.
Tudo isso às vésperas das eleições de 2022!
Será que nós, eleitores responsáveis, ainda não entendemos a conexão entre esses fatos?
Até quando vamos nos fazer de vítimas de políticos ignorantes, sem visão de futuro e atitude no presente?
Não será agora a hora de despertarmos da ilusão de que fazendo mais do mesmo é que sairemos dessa profunda crise em que nos enfiamos?
Senhores e senhoras eleitores e eleitoras, inclusive os mais jovens que votarão pela primeira vez em 2022, o Brasil não resistirá a mais quatro anos de populismo e negligência climática e irresponsabilidade socioambiental.
Se queremos não lamentar pelo que “poderíamos ter sido no futuro caso tivéssemos feito tudo diferente hoje”, lembrem-se de perguntar aos seus candidatos este ano qual a correlação entre subsídios aos combustíveis fósseis, o desemprego estruturante, desmatamento e perda de biodiversidade nos biomas brasileiros, crise hídrica, mortes por deslizamentos nas periferias das grandes cidades e o aumento da fome e da miséria no Brasil.
Geração de emprego e segurança alimentar depende de produção de energia e de alimento, que dependem de água, que depende de chuva, que depende de clima, que depende de florestas, que dependem de políticos responsáveis, que dependem do “nosso voto”!
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
j3g2xv