Israel Russo*
Desde o primeiro de janeiro de 2019, as bandeiras de campanha de Jair Bolsonaro foram desmoronando, colocando-o como um dos maiores estelionatários eleitorais da história. Como turistas observando uma cachoeira, o brasileiro viu cair a agenda liberal de Paulo Guedes, o combate à corrupção de Sergio Moro e o fim da “mamata”, que o próprio presidente se mostrou avesso, ao impor sigilo de 100 anos sob seu cartão corporativo.
Todavia, embora haja inúmeras demonstrações contrárias por parte do chefe do Executivo, sua base militante continua atribuindo-lhe o título de conservador. Apesar de usarem e abusarem do termo, Bolsonaro não é, nem nunca foi, conservador; sempre foi um subversivo.
Subversão significa “a ação de perturbar ou destruir o desenvolvimento natural das coisas”. Quando se analisa o cenário político brasileiro atual, fica clara perversão da ordem moral causada pelo bolsonarismo. Os conservadores pedem uma ruptura institucional, enquanto os liberais ou progressistas, defendem a preservação da ordem democrática.
Quando Eduardo Bolsonaro aparece em vídeos ou publicações no Twitter falando sobre “subversão dos valores ocidentais”, fica estampado que são ignorantes replicando “bordões” olavistas, pois o presidente possui um modus operandi que o próprio Olavo classificaria como “método marxista”.
O histórico de subversão por parte do presidente da República vem de longa data. O registro mais antigo é de 1987, quando Bolsonaro, então capitão da Academia das Agulhas Negras, planejou explodir bombas em quartéis e outros locais estratégicos no Rio de Janeiro. A intenção era provocar um motim, que seria liderado por Bolsonaro, mas fracassou miseravelmente.
34 anos após a tentativa frustrada de atentado, seu Jair continua com a mesma mentalidade, mas desta vez na condição de presidente da República. Nesta semana, o governador paulista, João Doria, alertou os outros estados sobre a possibilidade de infiltração de bolsonaristas nas polícias militares, representando uma ameaça de “motim” liderado por Bolsonaro.
Como nos anos 80, o presidente não deve obter sucesso, mas a aventura, de qualquer maneira, seria extremamente prejudicial para a estabilidade do país, que já está em frangalhos. O Brasil enfrenta uma inflação assustadoramente alta, uma crise sanitária sem precedentes e uma tensão diuturna entre os poderes da República. Neste cenário, uma tentativa de tomada de poder teria consequências irreversíveis.
Por que os governistas avançam para a ruptura usando o manto de “conservador”? É um simples conceito vazio, que carece de conteúdo, como os conceitos que Olavo denunciava nos marxistas revolucionários. A direita brasileira, em especial a radicalizada pelo bolsonarismo, não tem base teórica alguma, apenas segue a manada.
Se para Gustave Le Bon a massa só poderia agregar mediocridade, a massa bolsonarista só consegue agregar degradação e ignorância. O estágio dessa subversão está avançado demais para tentar impedir, o perigo está batendo na porta e serão pelo menos alguns anos para o país ter alguma estabilidade jurídica e econômica novamente — o que não significa que irá crescer.
Um dos fatores decisivos para mudar o quadro da política é a manifestação do dia 12 de setembro, que foi convocada pela direita anti-bolsonarista. A demonstração de força e indignação com o governo por parte dessa parcela da população servirá para colocar um freio nas empreitadas golpistas de Jair Bolsonaro.
O presidente não esconde a preocupação com as manifestações de setembro, participando diretamente das convocações para um ato em seu favor. Não restam dúvidas, setembro será, mais uma vez, um mês histórico para o país.
*Israel Russo é jornalista, professor de filosofia e membro do MBL (Movimento Brasil Livre)
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