O Brasil está vivenciando um tipo de terror com o qual não estamos habituados. Os atentados que vem acontecendo cada vez com mais frequência nas escolas tem mostrado a fase mais cruel da cultura de violência e extremismo de direita que foram espalhadas nos últimos anos. A recorrência dos atos mostra que não estamos tratando de um problema individual, mas de um fenômeno social onde a violência e o absurdo são tratados como solução.
Acompanhada da violência vem o sentimento de revolta e a revolta pede punição (necessária), porém nenhuma punição devolve vidas, diminui os traumas das famílias ou reduz o pânico que vem sendo espalhado. Não permitir que esses atentados aconteçam é a única forma de encontramos paz e para frear esse ciclo de violência, terror e medo precisamos de prevenção. E, como prevenir?
As frágeis soluções sugeridas pela direita brasileira como colocar câmeras dentro das salas de aula e promover o homeschooling também em nada soluciona nossos problemas. Câmeras em sala de aula só vão nos oferecer mais imagens da barbárie e o homeschooling apenas vai diminuir as habilidades sociais que tanto precisamos para conviver em grupo.
É claro que medidas antes não pensadas no Brasil precisam ser tomadas no ambiente escolar para mitigar os danos. Precisamos preparar a comunidade escolar para identificar as situações e comportamentos que apontam para a violência. Em casos de atentados a mesma comunidade escolar precisa estar preparada para se comportar de forma a reduzir danos e proteger ao máximo as vidas. Mas, pensar que as soluções para esses crimes estão exclusivamente dentro do ambiente escolar também não é suficiente.
A violência e a barbárie apenas encontraram nas escolas o palco ideal para chocar, mas ela vem de fora. A violência se constrói nas redes sociais, nos grupos de ódio e nos ambientes públicos e para barrá-las precisamos estar presentes onde elas se organizam. Nesse contexto urge a regulamentação das mídias sociais. O código de conduta interna de uma empresa não pode se sobrepor a legislação do nosso país.
São nas redes sociais que boa parte dos criminosos encontram refúgio e vazão para seus crimes. No ambiente virtual a liberdade de expressão tem se tornado liberdade de violar, promover o ódio e esquematizar crimes. Promover a vigilância e o monitoramento para identificar e punir grupos que estimulam essa “cultura” não é tolher a sociedade ou promover o cerceamento da liberdade de expressão, mas fazer valer nas redes sociais as mesmas regras aplicadas no mundo offline.
Essa vigilância online não só nos permite identificar os criminosos como também frear a disseminação dessa prática. Quanto mais frequentes o acesso a conteúdos violentos mais naturalizado o assunto se torna. Um sentimento se torna uma piada, que se torna um admiração que, por vez, se torna uma ação. Dessa forma o ciclo se repete e novas pessoas que estão com a mente e princípios adoecidos acabam sendo cooptadas para a barbárie, a exemplo do cometimento de atentados.
Os atentados se disseminam quando encontram terreno fértil na mente das pessoas e exatamente por isso que nenhuma solução será efetiva se não vier acompanhada do cuidado à saúde mental. Precisamos priorizar a saúde mental da nossa população. Garantir dentro e fora das escolas programas mais densos de saúde mental que dê a oportunidade para todos serem acolhidos é o caminho para diminuir a quantidade de pessoas que adoecem mentalmente ao ponto de chegar no lugar sombrio de matar indiscriminadamente. Promover a defesa da saúde mental é, sem dúvida, o caminho para evitar o adoecimento da nossa população de forma massiva.
Portanto, para findar esse ciclo de violência precisamos limitar a reprodução desse tipo de conteúdo, cuidar da saúde mental da nossa sociedade e preparar a comunidade escolar para identificar e se proteger. As soluções são multifacetadas e envolvem um esforço conjunto da sociedade e das autoridades. Tudo isso para que notícias como a de Blumenau não se torne parte constante das nossas vidas.
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