No já algo distante ano de 2002 tive a oportunidade de ler uma inusitada notícia: “Alguns Ministros de Relações Exteriores estão sendo obrigados a tirar os sapatos nos aeroportos americanos por medida de segurança. Entre eles estão o chanceler brasileiro, Celso Lafer, e a chanceler chilena, María Alvear. Não precisam ficar descalços, por exemplo, os ministros Jack Straw (Inglaterra) e William Graham (Canadá)”.
Poucos meses depois divulgou-se o desabafo de um engenheiro baiano que havia chegado ao aeroporto de Los Angeles (EUA) com todos os documentos em ordem: “Um oficial me pede que colete toda a minha bagagem e o acompanhe. Ato contínuo, sou brutalmente jogado dentro de uma cela de 2×2 m, toda a minha bagagem, dinheiro, documentos, pertences pessoais são confiscados, retiram o meu cinto e o cadarço dos meus sapatos. Meus protestos (falo inglês fluentemente) são respondidos com gritos e ameaças de agressão física e confinamento. Me empurram violentamente de cara para a parede, me revistam dos pés à cabeça e todos os meus pertences pessoais são revirados. Sou finalmente jogado numa sala imunda, fedorenta, sem ventilação e já apinhada de gente”.
Os anos se passaram. Chegou dezembro de 2007, mês em que li outra notícia a respeito deste tema: “O consulado do Brasil em Frankfurt relatou ao Itamaraty a inusitada união de agentes aeroportuários espanhóis e alemães no controle de entrada de brasileiros no aeroporto alemão, dia 2: revistaram mais de 60% das malas dos passageiros e de comissários”.
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A notícia trazia, ainda, que “o governo espanhol se comprometeu a parar com a perseguição a brasileiros que viajam àquele país. Não está honrando a promessa. Por dia, quase dez brasileiros são barrados”.
Sobre as condições em que os passageiros ficam quando barrados nos aeroportos espanhóis, transcrevo notícia publicada pelo jornal espanhol El Mundo: “Entre o grupo de detidos se encontravam cinco crianças, uma delas de apenas dois anos, que não contou durante estes dias [cinco, até a deportação] com produtos de higiene ou nutrição”. A notícia cita o depoimento de um passageiro: “A mãe não tinha talco, nem roupa limpa, nem nada, porque nos confiscaram tudo, e a criança teve que comer o mesmo alimento dos adultos”.
E o tempo foi passando. Chegamos a 2009. E estes tristes episódios continuaram sendo notícia: “Vinte brasileiros foram barrados no Aeroporto de Madri, na Espanha, neste fim de semana. Oito voltaram nesta segunda-feira (26) ao Brasil. Eles enfrentaram 11 horas para cruzar o Atlântico e outras 12 para experimentar o rigor da imigração espanhola”
Eis o depoimento de um dos brasileiros, um engenheiro que havia sido enviado por sua empresa, uma transnacional, para treinamento lá na Espanha: “Fomos largados em uma sala de 2 x 2. Fiquei sentado no chão, em uma sala mal ventilada. Sem comunicação, explicação. É até falta de respeito”.
Poucos meses depois, nova notícia: “Pelo quinto ano consecutivo, o Brasil ocupa o primeiro lugar na lista dos países com o maior número de cidadãos barrados no Reino Unido em 2008, segundo dados preliminares liberados pelo Ministério do Interior britânico”.
Diante deste longo noticiário talvez seja o momento de nos perguntarmos, enquanto habitantes de um país que sempre recebeu a todos de braços abertos: há algo errado conosco ou com o Brasil?
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