Dia desses, participando de uma reunião, fui brindado com a seguinte frase: “Amanhã vamos criar um workgroup para estartar a análise do case e providenciar um feedback asap”.
Confesso que fiquei a pensar, naquele momento, no que aconteceria se em alguma reunião lá nos Estados Unidos um dos participantes dissesse: “Tomorrow we will create a grupo de trabalho to começar the analysis of the caso and arrange a retorno no menor lapso de tempo possível” – seria, no mínimo, caso de demissão, e talvez até mesmo de internação.
Saindo dali, ao voltar para casa, passei em frente a um dos “Business Center Plaza Bureau Convention Building & Office Tower” da vida. É curioso. Nunca tive a oportunidade de encontrar, seja na Europa ou nos EUA, uma série de edifícios com nomes brasileiros.
Há também os “Medical Health Center Diagnostic Image & Scan”. Aliás, sobre estes, há algum tempo um médico amigo me dizia da dificuldade em ensinar o endereço de seu consultório para pacientes que não falam inglês. Também aqui, nunca ouvi falar de algum país de língua inglesa que nos preste tal homenagem em seus prédios.
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Quer tirar férias? Vá a algum “Resort Inn Relax Flat Suites Hotels & Room Living Residence Service” – mas cuidado ao passar o endereço para o motorista de táxi, pois pode ser que ele não fale inglês e acabe perdido. Uma vez mais, desconheço onde quadro similar seja visto no exterior.
É esse o ponto que gostaria de abordar: o da reciprocidade. O do amor-próprio. O do respeito pela cultura de todo um povo. O do provincianismo que amesquinha. O do sentimento de brasilidade, enfim.
Desde logo advirto: não prego o isolamento, e muito pelo contrário. Temos que nos integrar ao mundo. Devemos, sim, estudar outros idiomas, conhecer outras culturas e procurar assimilar o que elas tiverem de bom. Tudo isto é saudável, e fique bem claro tal aspecto.
Só não compreendo por qual motivo temos nos “desnacionalizado” sob praticamente todos os aspectos. Já mencionei o primeiro deles – temos abandonado nosso próprio idioma para prestigiar o de outros povos.
Vai um segundo: temos aberto mão do tratamento respeitoso que herdamos dos portugueses para os modos, muitas vezes rudes, que nos chegam pelas mãos da cultura anglo-saxônica. Enquanto isso, confesso não ter encontrado ainda um país que esteja abrindo mão de suas tradições para ficar com as brasileiras.
Segue um terceiro: empresas estrangeiras aqui desembarcam recebidas de braços abertos, adquirindo instrumentos de geração de riqueza de forma quase que maciça: nos últimos anos, 60% das empresas brasileiras negociadas foram parar das mãos de estrangeiros. Nós, que falamos tanto em agronegócio como a salvação do futuro do Brasil, já exportamos 70% de nossa soja pelas mãos de empresas estrangeiras aqui instaladas – e 30% do café que produzimos.
Desconheço, porém, em qual país empresas brasileiras tenham tal envergadura, indo da energia aos transportes e das telecomunicações à atividade industrial estruturante. A dura verdade é que, ao longo das últimas décadas, temos sacrificado os empresários brasileiros em prol dos estrangeiros, sem que exista o menor sinal de reciprocidade por parte deles – e muito pelo contrário, que o digam nossos compatriotas rotineiramente discriminados no exterior.
Mas nada disso importa! Afinal, “nóis é the country do futuro, celeiro da mankind, um Brazil emergente, um people very smart e consciente, e com nóis nobody pode”.
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