Acabei de viver uma experiência muito enriquecedora, a candidatura a prefeito da cidade que escolhi como minha, Natal (RN).
Foram dias intensos de uma campanha que envolveu nada menos do que 13 candidaturas majoritárias e levou às urnas mais de 400 mil eleitores. O segundo lugar na disputa é um resultado que muito me honra.
Uma disputa eleitoral não se esgota no resultado imediato das urnas. A boa política impõe que essa jornada se reverta em aprendizado e aperfeiçoamento. Exige que o diálogo com cada cidadão e cidadã seja muito mais do que pedir o voto, mas um empenho sincero em compreender suas demandas e necessidades para incorporá-las à ação política cotidiana.
Trago esse aprendizado para o meu mandato de senador, que vai prosseguir revigorado. Não só pelas lições colhidas no contato com o povo de Natal, mas pelo otimismo que as urnas fizeram soprar por todo o país: a esquerda está viva, a generosidade persiste, a noite se abrevia.
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Mas o jogo não está ganho. Precisamos — nós, petistas, e a esquerda em geral — afinar a sintonia com realidades e anseios de categorias sociais que expressam uma sociedade cada vez mais diversa.
PublicidadeO PT, que se formou no chão de fábrica, na luta camponesa e nos setores médios, precisa reforçar os laços com esses contingentes onde eles foram esmaecidos — muito pela brutal campanha de desconstrução movida contra nós, mas também por desencontros decorrentes de decisões táticas que tomamos.
Quando escolhemos o olho no olho com a sociedade, colhemos acertos significativos. Basta ver o quanto avançamos nas chamadas pautas identitárias, na incorporação programática das reivindicações feministas, da população negra e LGBTI.
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Somos o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras e precisamos compreender o tamanho da responsabilidade que é reivindicar esse título neste Século 21.
É nosso dever compreender quem são, hoje, esses trabalhadores e trabalhadoras, 40 anos depois da fundação do nosso partido.
Em quatro décadas, o mundo do trabalho sofreu mudanças profundas: surgiram não apenas novas profissões, mas novas categorias sociais. “Novas” relações trabalhistas — que talvez não fossem estranhas ao Século 18 — exigem um novo olhar e uma nova abordagem. Não para normalizar os vínculos precários, a ausência de direitos e enorme dificuldade de organização. Mas sim para encontrar novas formas de ajudar a organizar os trabalhadores submetidos a essa realidade e contribuir para suas conquistas.
Estamos acostumados a associar a precarização do trabalho aos chamados “trabalhadores de aplicativos”. Essa realidade, porém, se estende muito mais além.
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Os pequenos empreendedores, os autônomos, os trabalhadores do telemarketing, uma parcela expressiva dos empregados do comércio, por exemplo, sequer sabem sentir falta da CLT, pois sequer conheceram os direitos assegurados por ela.
Esse é o segmento que eu chamo de “chão de loja”, gente que enfrenta uma realidade muito diferente do chão de fábrica onde plantamos as bases do PT há 40 anos.
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Nossa pauta tem tudo a ver com as necessidades desses contingentes, mas muitas vezes passa longe de seus desejos e anseios. Compreender essa contradição é um imenso desafio que hoje, depois de percorrer minha cidade em campanha, estou ainda mais entusiasmado a enfrentar.
É voz corrente que a esquerda precisa aprender a falar com os “novos trabalhadores”. Concordo. E quem quer falar precisa, antes de tudo, ouvir.
Dispersos, enfrentando individualmente a ferocidade de um sistema que já seria brutal contra a força de um coletivo organizado, são eles e elas que mais precisam contar com a nossa presença e ação.
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