O Brasil não poderia estar sob o risco de apagões de energia. Muito menos de redução de investimentos por falta de perspectiva energética. A extraordinária biodiversidade do nosso território nos oferece uma oportunidade singular de soberania. Se comparada a outros países, a condição brasileira é de enorme privilégio. É notório que neste momento de crise climática o País poderia estar na liderança global de sustentabilidade energética.
O vasto patrimônio hídrico, a geografia compatível, a extensão de áreas com frequência e intensidade solar, os padrões de velocidade e intensidade dos ventos, as grandes áreas de produção de cana de açúcar e de outros produtos de potencial energético e, finalmente, os achados recentes do Pré-Sal formam uma condição competitiva rara em relação a um dos insumos mais fundamentais para o crescimento econômico, inclusive o sustentável, e a garantia dos hábitos e costumes da vida moderna: a energia.
A nossa matriz energética é uma das mais renováveis do mundo. A disponibilidade de fontes renováveis como água, biomassa, vento e o próprio sol dá ao Brasil a condição de ser uma nação menos dependente do uso de combustíveis fósseis e, por essa razão, produtora de menor impacto na emissão de gases de efeito estufa. Hoje, mais de 45% da nossa matriz energética é de fonte renovável, enquanto a média mundial é de apenas 13%.
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Na composição da matriz elétrica, um dos mais importantes componentes da matriz energética, o Brasil se encontra em condição ainda mais favorável. O Brasil compõe o seu parque em cerca de mais de 80% de fontes renováveis, enquanto a média do mundo é de 25%. Esse diferencial faz o Brasil contar com condições mais competitivas em relação à corrida global por um modelo de sustentabilidade ambiental, uma imposição ética dos novos tempos e mesmo de sobrevivência da humanidade.
A responsabilidade com o impacto das nossas decisões pessoais, das escolhas corporativas e das ações governamentais, felizmente, passou a ser tema central nas discussões sobre o futuro do planeta. Tem ficado cada vez mais claro que é imperativo um plano de desenvolvimento nacional que reconstrua as bases sociais, políticas, culturais e macroeconômicas indispensáveis à produção de um novo e longevo ciclo de crescimento econômico.
Entretanto, é necessário também incorporar novas dimensões a um crescimento do PIB que não seja só quantitativo, mas sensível às nossas peculiaridades, potenciais e contradições. Tão central quanto um novo modelo de crescimento capaz de reduzir as desigualdades e a pobreza, é necessário incorporar novos modos de produção, tecnologias inovadoras, novos marcos regulatórios e incentivos governamentais que valorizem nosso legado ambiental. Só assim será possível reposicionar o Brasil nas disputas comerciais internacionais.
Ao longo do tempo, o Brasil tem tido a “a faca e o queijo nas mãos” para liderar o mundo por novos e sustentáveis caminhos de desenvolvimento. Infelizmente, tem feito muito pouco de todo o potencial disponível. O desenvolvimento de pesquisas e de novas tecnologias por Petrobras, Embrapa e vários núcleos acadêmicos de excelência na área, alguns investimentos privados e incentivos governamentais foram até realizados, mas explorando ainda de forma muito tímida as nossas riquíssimas possibilidades.
Como agravante, assistimos às tentativas de desmantelamento de nosso potencial energético, como resultante do deliberado enfraquecimento dos investimentos públicos e da centralidade da Petrobras como indutora das inovações tecnológicas na área, a privatização de suas subsidiárias e a equivocada transformação numa “empresa de mercado” ao invés de estratégica para o crescimento nacional.
Se somam a isso as investidas pela privatização da Eletrobras, aliada à escassez de investimentos em pesquisa e em tecnologia, à incompreensível dependência internacional por derivados do petróleo e os tímidos estímulos à exploração de todo o potencial eólico e solar. Claro que necessitamos planos inteligentes, investimentos públicos adequados, investimentos privados de interesse nacional complementares e de muita tecnologia nacional.
Se bem administrado, toda o nosso potencial energético ainda poderá nos levar às mais modernas fronteiras do desenvolvimento, a um novo papel de centralidade global e, o principal: tornará a energia um dos mais sólidos alicerces da nossa soberania nacional.
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