Ex-motorista e dono de caminhão por 35 anos, Nereu Crispim (PSD-RS) se elegeu deputado pela primeira vez em 2018, então pelo PSL de Jair Bolsonaro. No primeiro ano de mandato, rompeu com o presidente por perceber o descumprimento de promessas de campanha e discordar dos rumos do governo. O gaúcho, que virou presidente da Frente Parlamentar dos Caminhoneiros, não conseguiu se reeleger em outubro e admite voltar ao transporte no próximo ano.
Como conhecedor e integrante da categoria, Crispim diz não ter dúvida: os bloqueios promovidos por caminhoneiros nas estradas não têm qualquer relação com a categoria, são atos golpistas tramados por políticos e empresários, sobretudo do agronegócio, que não aceitam a eleição de Lula e a derrota de Jair Bolsonaro.
“Os caminhoneiros estão sendo usados como bucha de canhão de golpistas”, disse o deputado ao Congresso em Foco. “Caminhoneiro de verdade não apoia Bolsonaro porque ele mentiu para a categoria nos quatro anos. O caminhoneiro aceita o resultado da eleição”, completou.
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Balanço divulgado há pouco pela PRF informa que há, até o final da manhã desta terça-feira, 134 rodovias interditadas (onde a passagem está completamente obstruída) e 84 bloqueios.
“Botaram o rótulo de que caminhoneiro é capacho de Bolsonaro e faz qualquer coisa por Bolsonaro. Isso é mentira. A categoria apenas o apoiou da outra vez porque ele dizia que ia seguir a pauta dos caminhoneiros. Não fez nada por eles. Mentiu por quatro anos.”
A frente parlamentar, que é composta por 235 deputados e 22 senadores, entrou nessa segunda-feira com ação na Justiça Federal pedindo indenização por danos morais e materiais para a categoria por causa dos mais de 200 bloqueios promovidos por bolsonaristas nas rodovias. Enviou também ofício ao Ministério da Justiça e na Polícia Rodoviária Federal (PRF) cobrando explicações sobre a demora para a liberação das estradas.
Os manifestantes pedem intervenção militar. Nenhuma pauta relacionada à categoria. Em 2018, durante a greve que paralisou o país entre maio e junho, Bolsonaro se aproximou dos caminhoneiros e prometeu encampar suas reivindicações caso fosse eleito. Mas nenhuma das medidas foi adiante.
“Isso não é movimento de caminhoneiro. Nossa pauta sempre foi econômica, nunca foi política ideológica”, frisou Crispim ao criticar os bloqueios nas estradas. Segundo ele, donos de empresas de transporte e empresários do agro usam os caminhoneiros sob batuta de lideranças políticas de extrema-direita, inclusive parlamentares que têm incentivado as mobilizações.
Desde a proclamação da vitória de Lula, o presidente Jair Bolsonaro não se manifestou sobre o resultado da eleição nem sobre o movimento nas estradas. A posição tem sido vista como aval para os atos.
“Estão usando o nome de caminhoneiros indevidamente. É o choro ideológico dos perdedores, que pregaram ódio por quatro anos. Isso é um mais um motivo para eles terem merecido perder a eleição. Eles diziam defender Deus, pátria e família e estão atentando contra tudo isso”, disse o deputado.
Para o líder da frente parlamentar, virou “moda” a instrumentalização dos caminhoneiros para amedrontar e intimidar a população. “Falam que caminhoneiro vai parar o Brasil, como disse o Sergio Reis. Nós rechaçamos isso. Caminhoneiro não é criminoso. Nós transportamos vacina contra a covid pelo país”, lembrou.
O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria nessa madrugada para confirmar a decisão do ministro Alexandre de Moraes que determinou que a PRF e policiais militares desobstruam todas as rodovias bloqueadas imediatamente. A ação foi movida pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Os bloqueios dos caminhoneiros bolsonaristas começaram ainda no domingo à noite após a proclamação da vitória de Lula. Em seu voto, Moraes determinou que, em caso de descumprimento de sua decisão, o diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, poderá ser afastado das funções e preso em flagrante. Além disso, poderá ser multado pessoalmente em R$ 100 mil por hora. A decisão tem caráter imediato. Para o relator, é “inegável” que “a PRF não vem realizando sua tarefa constitucional e legal”.
No domingo a PRF foi incisiva na abordagem de veículos que transportavam eleitores, sobretudo na região Nordeste. Alguns deles deixaram de votar. O caso também foi discutido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que cobrou explicações do chefe da PRF, mas concluiu que os atos não prejudicaram a votação. O episódio foi visto pela campanha do ex-presidente Lula como uma tentativa de impedir que os eleitores do petista votassem.
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