A árvore genealógica do União Brasil aponta como seu avô dileto o PFL. Do velho PFL, sempre se poderá dizer que era a completa tradução brasileira da velha máxima de Lampedusa em O Leopardo: “É preciso que algo mude para que tudo permaneça como está”. Na época, José Sarney saiu da presidência do PDS, o partido que dava sustentação à ditadura militar, para ser um dos comandantes da Aliança Liberal e virar o candidato a vice-presidente da chapa, com Tancredo Neves, que derrotou a ditadura que alguns meses antes ele apoiava. A Aliança Liberal virou o PFL.
Depois, será possível encontrar na biografia do avô do União Brasil o envolvimento de alguns dos seus com alguns casos grossos de corrupção. O comandante do esquema dos anões do orçamento, João Alves, era então do PFL. Aquele que depois o substituiu no comando do orçamento, Ricardo Fiúza, também. E ainda que não se possa apontar o partido como responsável, é sempre bom lembrar que daquele episódio resultou o assassinato de Elizabeth Lofrano, morta por seu marido, José Carlos Alves dos Santos, que era o principal assessor da Comissão de Orçamento.
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Enfim, haverá no passado do União Brasil tais histórias complicadas. Mas nunca o envolvimento direto, aparentemente comprovado por uma investigação policial, de um político do partido em um assassinato. E um assassinato nas circunstâncias da execução da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.
Porque, de acordo com a investigação, Marielle teria sido assassinada pelo ex-policial militar e matador de aluguel Ronnie Lessa, a mando do deputado Chiquinho Brazão, porque ela atrapalhava outros planos, segundo a investigação, igualmente criminosos. A ocupação imobiliária irregular pelas milícias do Rio. Grilagem de terra.
O União apressou-se a expulsar Chiquinho Brazão dos seus quadros ainda no domingo, quando nem bem ele tinha dado entrado na Penitenciária da Papuda, junto com os demais presos, seu irmão Domingos Brazão, do Tribunal de Contas do Estado, e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio.
Mas o partido que expulsa Brazão tem agora também seus comandantes envolvidos em páginas policiais. O antigo presidente do União, Luciano Bivar, não aceita ter sido derrotado pelo atual presidente, Antônio Rueda. Tenta anular a eleição. Não consegue. Então, as casas de praia de Rueda e de sua irmã, Patricia, aparecem incendidas, no que claramente parece um incêndio criminoso. Rueda acusa Bivar dos incêndios. À polícia, diz também que Bivar o teria ameaçado de morte.
Faz quase 40 anos que o PFL foi fundado. Mal ou bem, um importante movimento para dar fim a mais de 20 anos de ditadura militar. A sociedade agradece. Mas, infelizmente, o neto do avô dileto parece hoje o retrato de certa degradação política que ou o país enfrenta ou pagará muito caro pelo convívio.
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