A lista de desafios da pré-candidatura de Simone Tebet à presidência pelo MDB vai desde oposições internas, evidenciadas esta semana em jantar de líderes do partido com o ex-presidente Lula, até a luta para validar seu nome junto às demais siglas que defendem uma terceira via. Isso, sem deixar de lado a própria dificuldade de se construir uma terceira via em um cenário polarizado como mostram as pesquisas de intenção de voto, onde Lula e o atual presidente Jair Bolsonaro predominam com margens de apoio acima dos 30%.
Leia a entrevista com Eunício Oliveira
Em uma conversa exclusiva com o Congresso em Foco, Tebet abordou esses desafios, respondeu sobre como recebeu a notícia do jantar de correligionários com o petista, os prejuízos que os palanques locais podem trazer para a sua campanha e de possíveis conversas com Eunício Oliveira e Renan Calheiros para sanar arestas. Os dois têm protagonizado um movimento para que o MDB endosse o palanque nacional do PT e temem que as eleições deste ano repitam 2018, quando o candidato da sigla ficou com 1,2% dos votos, após apuração das urnas.
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Jantar com Lula
Eu vejo com naturalidade. Não podemos esquecer que em um Brasil continental do tamanho que é o nosso país e eu estou diante do partido que é o maior partido do Brasil, que tem o maior número de prefeitos espalhados pelo Brasil todo. Você tem alianças regionais importantes que não podem ser desprezadas e nunca foram desprezadas por nenhum partido.
Eu dou o exemplo do próprio presidente Bolsonaro. Ou você acha que os deputados federais e senadores do centrão que apoiam Bolsonaro vão estar no palanque de Bolsonaro mesmo que isso tire voto deles? Não vão. As alianças regionais no Nordeste estão muito mais próximas do Lula para todos os partidos do que para Bolsonaro porque aquela é a única região onde que Lula ainda pontua na frente nas pesquisas. Então isso serve para o MDB em alguns estados – não todos, é importante dizer – e isso serve para os outros também. Da mesma forma que Lula se prejudica nos palanques do Sul, do Centro-Oeste e do Norte onde ele tem dificuldade de ter apoio.
Resistência à pré-candidatura
A minha candidatura, eu fui procurada – eu não me ofereci, ao contrário, eu demorei para assimilar a importância de uma candidatura própria do MDB neste momento – ela veio não só da base, do MDB Jovem, Afro, do MDB Mulher, etc., como ela veio de um pedido dos próprios parlamentares, uma parte deles, e de diretórios regionais dizendo ‘nós precisamos de um palanque neutro, nós precisamos de um palanque leve, um palanque em que a gente não traga a rejeição de nenhum dos lados’. Isso acontece, por exemplo, no Pará. Nós temos uma realidade mais ou menos no mesmo sentido em, por exemplo, Roraima, e o próprio Pernambuco é uma situação que nos dá conforto.
Então dentro desse aspecto os palanques regionais sempre existiram sempre foram uma eleição a parte. Eu já fui candidata em palanque regional, já fui candidata ao senado, fui candidata a vice-governadora. Então eu sei como funciona. Nesse aspecto eu não digo que o jogo é empate, mas que há uma certa neutralidade no sentido de que esta é uma eleição curta e diferente. É uma eleição onde despontam os rejeitados. Nós temos dois candidatos que pontuam bem [Lula e Bolsonaro], mas chegaram em um teto que têm uma rejeição muito grande.
Crescimento da terceira via
Como que um presidente da República com mais de 50% de rejeição pode estar no segundo turno? É porque falta opção. Porque o centro, a frente democrática não apresentou nome. Quando tivermos uma fotografia, nome sobrenome, foto e a pessoa olhar o histórico do candidato, aquela franja que está com Lula porque não quer Bolsonaro, ou que está com Bolsonaro porque não quer Lula, essa franja é muito grande.
Quando se fala ‘ah, tem poucos indecisos’, não é verdade. Se você olhar além dos indecisos aqueles que estão com um ou com outro por falta de opção… se ver esse embate… O que as pessoas querem é um caminho para a paz, para a pacificação política, nem uma coisa, nem outra. E eu estou dizendo aí de uma faixa de pelo menos 40%. Se ela existe, ela vai tirar de onde esses votos já que os indecisos são em torno de 14% ou 15%? Vai tirar um pouco do Lula, um pouco do Bolsonaro. Significa que nós não temos só 14%, nós temos 40% mais ou menos para transitar, lembrando que isso representa muito mais porque é tirando o voto de quem já está ali. Não são os 40% que sobraram. É que além de ganharmos, nós vamos estar tirando, esses [Lula e Bolsonoro] vão cair nos índices. É essa a construção que está sendo feita pela Frente Democrática não só por pesquisas quantitativas e qualitativas, mas pelo sentimento do povo.
Viagens pelo país
Em menos de dez dias eu estive do Paraná no Sul ao Pará no Norte. É o sentimento de que as pessoas, especialmente a classe média, está esperando alguma coisa. E essa alguma coisa numa democracia é fundamental. É fundamental que os partidos apresentem porque a soberania é popular. O eleitor precisa ter opção. Se a classe política não dá opção, apenas dois nomes basicamente, que democracia é essa onde eu sou obrigada a votar no menos pior?
Não tem sentido, eu faço parte desta frente democrática porque eu entendo a necessidade do povo de escolher, não apenas o menos pior.
Estamos falando de 27 milhões da absoluta miséria. É um país da Europa passando fome, fora os que vivem algum tipo de insegurança alimentar, que é a classe já na pobreza que precisamos diminuir. Quando você iguala socialmente as pessoas você transforma o país.
Então dentro desse processo todo o centro se apresenta, sem dificuldade nenhuma, sempre foi assim em relação às alianças estaduais. Todos os partidos estão fazendo alianças até o momento em que eles estiverem mais fragilizados com as pesquisas.
O desafio do desconhecimento
É uma eleição que vai valer muito mais tempo de rádio, tempo de TV, as redes sociais.
As redes sociais hoje diminuíram o tamanho dos palanques, a importância do palanque para a majoritária nacional. Para presidente da República vai valer mais para esta juventude e para nós que temos um celular na mão, vamos estar mais atento aos movimentos dos candidatos pelo celular do que pelo palanque tradicional. Nesse troca-troca há uma possibilidade grande de fazer política sem os palanques regionais. Ou a frente nacional pega no tranco, e pega fogo ou não vai ser o palanque regional que vai mudar a realidade. A hora que tivermos uma fotografia, nome, sobrenome, personagem, a gente começa a pontuar.
Lembrando que ninguém vota num partido, vota no centro, as pessoas votam em pessoas
Conversas com Renan e Eunício
Eu converso com eles direto, o Renan está lá [no Senado] toda semana. Eu respeito o posicionamento deles, mas toda vez que eles falam, falam Renan e Eunício, Eunício e Renan. Com todo respeito aos meus colegas, eu tenho um bom convívio com eles dentro do partido, mas o MDB é muito maior que isso. Hoje o MDB infelizmente, o MDB do Nordeste, ele ficou muito pequenininho. O MDB no Nordeste é menor na proporção de uma convenção de todos os delegados que todo o restante. É quase 75% dos delegados de todos os partidos são Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Então o Nordeste perdeu. O MDB no Nordeste fez um governador e sete, dos 37 deputados. O que ainda segura o MDB no Nordeste são alguns senadores.
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