Começou hoje (22) no TSE o julgamento que deverá deixar Jair Bolsonaro inelegível pelos próximos oito anos. Caso os sete juízes da Corte decidam pela condenação, terá início uma mudança expressiva no quadro político, antecipando movimentos para as próximas eleições presidenciais. Fora da urna eletrônica, o ex-presidente ainda terá papel relevante na atração de votos, mas dificilmente será o líder de massas da última disputa. Sua decadência favorece a emergência de uma nova direita, não radical, que começou a ganhar feições com a nova safra de governadores.
No campo da esquerda, a saída de Bolsonaro do jogo também terá reflexos, com ou sem uma candidatura de Lula à reeleição. Para vencer, Lula, ou o nome que ele vier a apoiar, caso decida não disputar a Presidência pela sexta vez, terá que conquistar forças de centro e centro-direita, indo além o arco de alianças que esteve com ele no ano passado. Lula começa essa corrida em posição privilegiada — no governo e com a economia dando claros sinais de melhora. Seu desafio, no entanto, é agregar esses setores a seu projeto desde já, ampliando sua base parlamentar.
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Nesse esforço, já é dada como certa uma mudança no Ministério que contemple partidos como o PP de Arthur Lira. Não se espera que o presidente entregue ao chefe do Centrão pastas como a da Saúde, cara ao PT e à esquerda, sobretudo depois do desastre de Bolsonaro na gestão da pandemia. Mas Lira deve ganhar a chance de indicar alguém de sua confiança para um posto de peso. Lula também gostaria de ter a seu lado o Republicanos. O presidente do partido, deputado Marcos Pereira (SP), tem negado qualquer possibilidade de integrar o governo, até porque conta com um potencial candidato à sucessão de Lula, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. No entanto, Pereira sonha com a presidência da Câmara em 2025 e poderá precisar do apoio do Planalto.
Em outra frente, Lula tenta refazer pontes com um setor econômico fundamental e com muita influência no Congresso, o agronegócio, que apoiou majoritariamente Bolsonaro nos últimos anos. Depois de chamar seus representantes de fascistas, mudou de tom. Disse que nunca teve problemas com o agro e atribuiu resistências ao governo a questões ideológicas. Também escalou o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) para ir à Frente Parlamentar da Agropecuária e prometer “o maior Plano Safra da história” — o anúncio está previsto para o próximo dia 27.
Na semana que vem, o Congresso deve entregar ao Planalto as novas regras fiscais. A legislação pode não atender a todas as expectativas, mas é um atestado de que o governo Lula tem preocupações com a solvência das contas públicas — boa notícia para o setor financeiro, que apostou em Bolsonaro em 2018. Nos dias seguintes, a reforma tributária deve ir a votação na Câmara. Há incertezas sobre sua abrangência, mas qualquer simplificação do sistema será considerada um avanço, dando ao país um ambiente de negócios mais receptivo.
Essas duas propostas encabeçaram as promessas de campanha de Lula, além da reedição de seus programas sociais. Pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira (21) mostrou que o eleitor já reconhece a mudança. Em maio, cerca de um terço (34%) da população via uma piora na economia. Esse índice passou a 26%. O grupo dos que veem melhora cresceu — de 23% para 32%. Destes, 86% afirmam que Lula faz um bom trabalho nessa área. Um mês atrás, eram 69%.
A economia em alta será, sem dúvida, fator decisivo para o sucesso dos arranjos político-eleitorais. É um atrativo quase infalível para políticos em época de eleição.
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