“São oito milhões de habitantes/ De todo canto e nação/ Que se agridem cortesmente/ Correndo a todo vapor/ E amando com tanto ódio/ Se odeiam com todo amor”.
Assim começa a canção “São Paulo Meu Amor”, de Tom Zé, vencedora do festival da Canção da TV Record de 1968. Cinquenta e quatro anos depois, a única coisa que parece ter ficado desatualizada na canção é o número de habitantes da cidade de São Paulo. Agora, são mais de 12 milhões de habitantes que se “agridem cortesmente”, “amam com todo ódio” e “se odeiam com todo amor” na cidade de São Paulo.
Já no estado, locomotiva da economia brasileira, são cerca de 46 milhões de pessoas. As características que Tom Zé anotava em 1968, de uma cidade tomada por uma mistura de amor e ódio, parece mais de 50 anos depois ter se espalhado pelo país na polarização política que vamos experimentando entre os que apoiam o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e os que estão com o presidente Jair Bolsonaro (PL) na escolha presidencial que o país fará em outubro. E é interessante como o mesmo cenário, na visão de um experiente deputado de São Paulo, pode se repetir em São Paulo.
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“Há uma grande possibilidade de São Paulo repetir na eleição para governador o mesmo cenário da disputa entre Lula e Bolsonaro”, avaliou esse deputado para a coluna, pedindo reserva por ser de um partido que não está neste momento nem com um nem com o outro.
A primeira coisa que o deputado observa é como João Doria perdeu substância, mesmo entre aqueles que o elegeram governador de São Paulo. Ele agora poderia lucrar com seus acertos, o maior dele ser o grande padrinho da vacina brasileira, a Coronavac, comprando com Bolsonaro uma briga que foi importante para seu estado e para o país.
Mas os diversos movimentos políticos erráticos de Doria parecem ter pesado mais. A essa altura, o eleitor parece não mais confiar no que diz João Doria. Ele era prefeito, deixou a prefeitura para concorrer ao governo. É governador, deixa o governo para tentar ser presidente. Era aliado de Geraldo Alckmin, abandonou Geraldo Alckmin para apoiar Bolsonaro na dobradinha “bolsodoria”. Rompeu com Bolsonaro para seguir trajetória própria. A desconfiança do eleitor quanto aos movimentos de Doria parece pesar contra ele.
O que faz com que, abandonado Doria pelo eleitor e com Geraldo Alckmin fora da disputa estadual, uma vez que será o candidato a vice de Lula, Fernando Haddad, na visão desse deputado, já esteja a essa altura no segundo turno da disputa pelo governo de São Paulo. Para ele, não há mais muita dúvida quanto a essa posição para o candidato do PT.
O deputado aposta que Márcio França, do PSB, acabará recolhendo suas pretensões de ser também candidato e compondo com Haddad para apoiá-lo. Em troca, França deve ficar com a vaga para o Senado.
A briga, então, fica com a outra vaga no segundo turno. E, para esse deputado, essa segunda vaga ficará com alguém do campo mais conservador. Com uma grande chance de vir a ser o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. “O que o Bolsonaro tiver de votos, Tarcísio vai ter. Se o Bolsonaro tiver, como mostram hoje as pesquisas, 25% dos votos, é o que Tarcísio terá em São Paulo. E 25% dos votos botam Tarcísio no segundo turno da disputa”.
Só quem parece poder atrapalhar esses planos de Tarcísio é o vice-governador Rodrigo Garcia, do PSDB. Para o deputado, se ele, quando assumir o governo no dia 2 de abril e começar de fato a disputar a reeleição, for capaz de desassociar seu nome do nome de Doria. Na contramão disso, as redes sociais ligadas a Tarcísio já tratam de fazer força contrária, valendo-se da hashtag “rodrigodoriagarcia”.
De qualquer modo, governadores sempre tiveram força em São Paulo para obter a reeleição. Mesmo Márcio França quando substituiu Alckmin no governo.
Assim, o deputado aposta que, com Haddad no segundo turno, “Tarcísio e Rodrigo Garcia deverão fazer uma disputa duríssima pela outra vaga”. Muito provavelmente, se agredirão um bocado. E talvez nem tão “cortesmente” como os paulistas da canção de Tom Zé.
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