Deysi Cioccari *
“A rede é um espaço de disputa política”
ASSANGE (2013)
As campanhas para as prefeituras em 2016 deverão exigir mais criatividade, muito mais organização e capacidade de mobilização tanto dos partidos políticos quanto dos candidatos. Com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de limitar gastos de candidatos nas eleições municipais de outubro e de proibir as doações de empresas, a tendência é que a propaganda eleitoral seja mais modesta neste ano.
Na campanha municipal de 2012, a soma dos gastos nos municípios do Rio Grande do Sul durante o pleito, por exemplo, foi de R$ 136,5 milhões (dado corrigido pela inflação). O Ministério Público Eleitoral estima que empresas tenham doado mais de 80% do montante a esses candidatos, partidos e comitês. Com a proibição dessas doações, percebemos um tom diferente. As cidades estão mais silenciosas e menos poluídas visualmente. O que veremos?
Veremos uma campanha mais ágil em termos de mídias sociais. O Facebook conta no Brasil com 99 milhões de usuários ativos por mês. De olho nesses eleitores potenciais, a nova estratégia deve inserir atores políticos em espaços conversacionais não-hierárquicos, transformando a experiência de campanha e oferecendo visibilidade à opiniões políticas que devem emergir das interações sociais virtuais.
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As campanhas políticas atuais já têm apostado na internet como meio alternativo para campanha eleitoral e para interação com seus eleitores. Porém, a participação dos agentes políticos em plataformas altamente segmentadas, interativas e intencionais (o acesso à informação é resultado das escolhas do usuário), representa um grande desafio para as campanhas, uma vez que elas proporcionam aos, nesse caso, eleitores, amplo acesso a variadas fontes de informação e descentralizam o processo de comunicação.
De acordo com pesquisa do Ibope, a internet foi considerada a principal fonte de informação política para 12% do eleitorado em 2010, atrás apenas da TV (72%). Se considerados fatores como renda e escolaridade, a internet é a fonte principal para 33% dos brasileiros com ensino superior e 29% para pessoas cuja renda familiar é superior a cinco salários mínimos.
Mas ocorre que o uso do potencial comunicacional da internet pelos partidos esbarra em alguns obstáculos. Como bem lembra a pesquisadora Natália Taffarel, a lógica da comunicação estabelecida pelas redes sociais é descentralizada, multipolar e altamente interativa, impondo uma nova cosmologia aos partidos, habituados ao padrão de comunicação tradicional em que há um claro e rígido emissor, de uma parte, e receptores passivos, de outra.
Os partidos, aparentemente, também não dominam a linguagem e tampouco conhecem os gostos e preferências das novas gerações que cresceram num mundo densamente povoado por equipamentos eletrônicos e realidade virtual, que são os eleitores que começam agora no ambiente político. As lideranças partidárias, em sua maioria, da chamada geração X, anterior aos anos 1970, não sabem como se relacionar com a geração Z, nascida nos anos 1990.
As evidências de uma crise de representação e legitimidade que vinha atingindo os partidos desde o final dos anos 1970 são, então, agravadas por essa inadequação dos partidos e sua inabilidade para lidar com as novas demandas e as novas linguagens e hábitos culturais. É preciso ter a apuração necessária para não fazer das redes sociais um media clássico, ou seja, mais um meio de comunicação que se fica pelo caráter informativo. As possibilidades de interação com os eleitores são infinitas e não devem ser desperdiçadas fazendo das redes apenas mais um sistema panfletário antigo.
Esperamos que nestas eleições as redes sociais sejam utilizadas a partir do envolvimento vivo e criativo que só elas permitem.
* É doutoranda em Ciências Sociais pela PUC/SP. Pesquisadora dos grupos Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo, da Cásper Líbero e do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política, da PUC/SP.
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