As negociações entre a Rede e o Psol para formar uma federação, ou seja, atuar como um partido pelos próximos quatro anos, avançam, mas ainda dependem de um entendimento sobre a eleição presidencial. O partido fundado pela ex-ministra e ex-senadora Marina Silva condiciona a parceria à inclusão de uma cláusula que libere seus filiados a apoiarem o candidato que quiser no primeiro turno.
Na prática, Marina e outras lideranças da legenda, como a ex-senadora Heloisa Helena, querem a garantia de que poderão apoiar outra candidatura que não a do ex-presidente Lula (PT). Ambas deixaram o PT em clima de guerra e preferem subir no palanque de Ciro Gomes. O Psol, que tem preferência clara pelo petista, avalia uma saída jurídica, dentro da elaboração do estatuto da federação, para fechar a parceria. Mas dentro da sigla nem todos estão confortáveis com a aliança por não enxergarem identificação ideológica entre as duas agremiações.
Participar de uma federação é questão de sobrevivência para a Rede, que precisa atingir determinada votação nas próximas eleições legislativas para escapar da chamada cláusula de barreira, que praticamente acaba com os partidos que não conseguirem alcançar os números exigidos.
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Porta-voz da Rede, cargo que corresponde ao de presidente em outras legendas, Heloísa Helena disse ao Congresso em Foco que a sigla está trabalhando para se manter como uma unidade e as tratativas para uma possível federação com o Psol dependem diretamente disso.
“Respeitamos as legítimas divergências na tática eleitoral presidencial, pois hoje a maior possibilidade é a liberação da militância com base no conteúdo programático”, afirma a a ex-senadora, que foi expulsa do PT com outros deputados que se recusaram a apoiar a reforma da Previdência do governo Lula e acabou fundando justamente o Psol. Trocou o partido pela Rede em 2015 em meio a divergências internas.
Segundo Heloísa, as articulações para a constituição da federação buscam construir um programa comum, que possibilite as prioridades dos dois partidos e a a estruturação de um estatuto interno que “possibilite o direito à divergência pública sem sanção, tanto nacional como nos estados”. O “direito à divergência pública” se deve à corrida eleitoral de outubro deste ano.
Na quarta-feira (16), o Psol apresentou os eixos programáticos que nortearão as conversas para construir uma unidade entre as legendas de esquerda para as eleições de 2022. Intitulada como “Direito ao futuro”, a plataforma traz as propostas da legenda para “reconstruir o Brasil”.
São cinco eixos programáticos centrais: economia, trabalho e renda; ampliação dos direitos sociais; direitos humanos e combate às opressões; meio ambiente, crise climática e transição energética; democracia, instituições e relações internacionais.
Apoio (quase) certo a Lula
Com candidato presidencial próprio em todas as eleições que disputou, o Psol desta vez dá praticamente como certo o apoio a Lula, num esforço de unificar as esquerdas em torno de um candidato que possa derrotar Jair Bolsonaro já no primeiro turno.
“Para que a gente possa pautar um debate em torno de um programa para superação da crise, é claro, nós temos no nosso campo uma grande liderança popular já testada que é o ex-presidente Lula e tem expressado e vocalizado medidas que são importantes no combate à crise”, afirmou o presidente do Psol, Juliano Medeiros.
Muito próxima de Marina Silva, Heloisa Helena vê com receio a imposição de um apoio público ao ex-presidente.
Marina deixou o PT em 2008 pouco depois de se demitir do Ministério do Meio Ambiente, pasta que comandou por cinco anos no governo Lula. Em 2014, foi atacada impiedosamente pelos ex-companheiros durante aquela campanha eleitoral, o que acabou lhe retirando a possibilidade de avançar para o segundo turno.
Porta-voz da Rede em São Paulo, Mariana Lacerda reconhece que há divergências dentro do partido em torno da eleição presidencial. “Tem lideranças para as quais é muito difícil apoiar Lula. Outras são mais tranquilas em relação a essa decisão”, disse Marina ao Congresso em Foco. Segundo ela, é importante que na constituição da federação sejam respeitados princípios como a liberdade, a preservação da marca, a governança e o espírito de fraternidade diante de eventuais divergências.
Ela ressalta que essas diferenças precisam ser dirimidas. “A parte mais radical do Psol também não quer estar conosco. Há insatisfeitos das duas partes, mas são filigranas que podem ser resolvidas”, ressaltou Mariana.
Resistência
Autodeclarado pré-candidato a presidente desde maio do ano passado, o deputado Glauber Braga (Psol-RJ) é um dos que resistem à aliança com a Rede. Para o parlamentar, a união entre as duas legendas será um “erro gravíssimo”, pois levaria à “diluição da ideologia do Psol”.
“A maior divergência é a representação política. O Psol é mais radical, enquanto a Rede tem posicionamentos mais amplos, inclusive na economia. As diferenças são evidentes”, afirmou o deputado. Na avaliação de Glauber, uma possível federação entre os dois partidos prejudicaria a identidade do Psol, que sempre se posicionou mais à esquerda que a Rede no espectro político.
O deputado lembra uma declaração dada em janeiro pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ex-Psol, na qual ele ressaltou que uma aliança entre os dois partidos seria positiva, pois “puxaria o Psol mais para o centro e a Rede mais para a esquerda”.
Na avaliação de Glauber, a federação não é necessária para o Psol superar a cláusula de barreira, pois a legenda foi capaz de atingir a porcentagem mínima de votos por conta própria nas últimas eleições. Caso acertem as diferenças, Psol e Rede caminharão juntos por quatro anos, até 2026.
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