Após a repercussão do discurso xenofóbico feito nessa terça-feira (28) do vereador de Caxias do Sul (RS) Sandro Fantinel, o Patriota emitiu uma nota no início da tarde desta quarta-feira (28) repudiando as falas do vereador e anunciando a expulsão de Fantinel dos quadros do partido. Ao comentar o caso dos trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão em vinícolas de Bento Gonçalves, Fantinel afirmou que os baianos “vivem na praia, tocando tambor” e, por isso, “era normal que se fosse ter esse tipo de problema”.
O Patriota afirmou que o discurso do vereador “está maculado por grave desrespeito a princípios e direitos constitucionalmente assegurados, à dignidade humana, à igualdade, ao decoro, à ordem e ao trabalho, já que se refere de forma vil a seres humanos tristemente encontrados em situação degradante” (confira a íntegra da nota no final da matéria).
O Psol pedirá a cassação do vereador. Fundadora e dirigente do Psol, a deputada estadual Luciana Genro (RS) afirmou que o partido também denunciará o vereador ao Ministério Público pela fala. “É inaceitável o discurso de ódio, xenófobo e racista, desse parlamentar bolsonarista contra os trabalhadores baianos em situação análoga à escravidão na Serra gaúcha”, pontuou a deputada.
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PublicidadeO PSOL vai solicitar a cassação do vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul, e denunciá-lo ao MP. É inaceitável o discurso de ódio, xenófobo e racista, desse parlamentar bolsonarista contra os trabalhadores baianos em situação análoga à escravidão na Serra gaúcha. Não passarão! pic.twitter.com/NiDawgkGs0
Publicidade— Luciana Genro (@lucianagenro) February 28, 2023
A fala do vereador também foi repudiada pelos governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT). No Twitter, o governador gaúcho classificou o discurso como “xenófobo e nojento” e ressaltou esse tipo de ataque não representa a população do Rio Grande do Sul. “Não admitiremos esse ódio, intolerância e desrespeito na política e na sociedade. Os gaúchos estão de braços abertos para todos, sempre”, afirmou Leite.
Vamos buscar autoridades do querido estado da Bahia para que nos visitem e acompanhem as atitudes que já estamos empreendendo e para nos aliarmos em outras ações conjuntas de nossos estados para banir o preconceito.
— Eduardo Leite (@EduardoLeite_) March 1, 2023
Jerônimo Rodrigues afirmou ter adotado as medidas cabíveis para que o vereador seja responsabilizado pela fala em que defende o trabalho escravo e é xenofóbico com os baianos. “É desumano, vergonhoso e inadmissível ver que há brasileiros capazes de defender a crueldade humana”, destacou Jerônimo.
Enquanto eu for governador da Bahia, irei combater firmemente qualquer tentativa de explorar ou escravizar nosso povo. O @governodabahia seguirá enfrentando o trabalho escravo e combatendo toda forma de violência e discriminação.
— Jerônimo Rodrigues (@Jeronimoba13) February 28, 2023
Entenda o caso
Na quarta-feira da semana passada (22), mais de 200 trabalhadores foram resgatados de um alojamento em Bento Gonçalves. Contratados por uma empresa que oferecia mão de obra para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região, os trabalhadores eram submetidos a condições degradantes e trabalho análogo à escravidão durante a colheita da uva.
A maioria dos trabalhadores viajou da Bahia para trabalhar na região e foram ameaçados e impedidos de retornarem para suas cidades de origem pelos empregadores. Em sessão da Câmara de Caxias do Sul nessa terça-feira, Sandro Fantinel disse que os acontecimentos eram “exagerados” e “midiáticos” e falou que os empresários da região não deveriam mais contratar “aquela gente lá de cima”.
“Não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar os argentinos. Porque todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam”, afirmou o vereador.
Fantinel também disse que a única cultura que os baianos têm é “viver na praia tocando tambor”. “Que isso sirva de lição, deixem de lado aquele povo que é acostumado com carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente”, discursou.
Expulsão do partido
Confira a íntegra da nota do partido:
“Exmo. Sr. SANDRO LUIZ FANTINEL
Vereador eleito pelo PATRIOTA
Câmara Municipal de Caxias do Sul/RS
Em 28/02/2023 veio a público o pronunciamento desrespeitoso e inaceitável feito por Vossa Excelência na tribuna da Câmara Municipal de Caxias do Sul/RS, acerca de investigação envolvendo 200 trabalhadores de vinícolas em Bento Gonçalves/RS, encontrados pelas autoridades em situação análoga à de escravidão. As palavras de Vossa Excelência, no uso da tribuna parlamentar e no exercício do cargo de vereador pelo PATRIOTA, abaixo degravadas, foram as seguintes: “…agora o patrão vai ter que pagar empregada pra fazer limpeza todo dia pros bonitos também? É isso que tem que acontecer? Temos que botar eles no hotel cinco estrelas pra não ter problemas com o Ministério do Trabalho? É isso que nós temos que fazer? Gente, eu só vou dar um conselho: agricultores, produtores, empresas agrícolas que estão neste momento me acompanhando, eu vou dar um conselho pra vocês: não contratem mais aquela gente lá de cima…conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar os argentinos. Porque todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje, só batem palmas. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem horário, mantém a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam. Em nenhum lugar no Estado, na agricultura, teve um problema com um argentino ou com um grupo de argentinos. Agora, com os baianos, que a única cultura que eles tem é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Então eu quero dizer, óh, deixem de lado, deixem de lado, que isso sirva de lição. Deixem de lado aquele povo que é acostumado com carnaval e festa, pra vocês não se incomodar novamente. E vou mais longe, e vou mais longe. O problema, senhoras e senhores, ele foi tão grave, mas foi tão grave, foi uma escravidão tão grave, que além dos caras voltar bêbados para o trabalho, né, teve vários, teve vários, desse mesmo grupo, que não quiseram ir embora, que quiseram permanecer em Bento, que quiseram permanecer na empresa e continuar trabalhando. Ué! Mas se estava tão ruim, Sr. Presidente, se estava tão ruim a escravidão, como é que alguns do próprio grupo, não quiseram ir embora, quiseram permanecer trabalhando na empresa. Ué! Se estava tão ruim, a situação teria que ser unânime. Todos deveriam querer ir embora. Então vamos abrir o olho, povo que me assiste, tá (?) quando falam de análogo à escravidão, porque eu conheço bem como fuciona essa escravidão […] pra concluir, Sr. Presidente, pra concluir, a intenção é trabalhar 10, 15, 20 dias, e receber 60 mais os direitos, essa é a intenção, obrigado Sr. Presidente.”
O discurso está maculado por grave desrespeito a princípios e direitos constitucionalmente assegurados, à dignidade humana, à igualdade, ao decoro, à ordem, ao trabalho, já que se referem de forma vil a seres humanos tristemente encontrados em situação degradante. Esta situação torna inconciliável sua permanência nas fileiras do PATRIOTA, partido que prima pelo respeito às leis, à vida e à equidade. Diante disso, o PATRIOTA NACIONAL vem comunicar Vossa Excelência, Exmo. Sr. SANDRO LUIZ FANTINEL, vereador de Caxias do Sul/RS que fez uso desabonador da tribuna no exercício do mandato, quanto à sua expulsão das fileiras do partido na data de hoje. Esta decisão foi oficiada à Vossa Excelência, à Câmara Municipal de Caxias do Sul/RS, à Justiça Eleitoral, à imprensa e ao público.”
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