Nesta segunda-feira (30), completou-se um ano desde o segundo turno das eleições de 2022, marcando a terceira vitória eleitoral de Lula para a disputa presidencial. Assim que eleito, Lula proferiu um longo discurso de agradecimento, ressaltando os principais objetivos de seu governo. Entre eles, está o de unificação nacional. Um ano depois, porém, a pesquisa mais recente da Quaest revela que permanece o clima de polarização entre lulistas e bolsonaristas no Brasil.
A polarização foi a principal marca das eleições de 2022. Esse elemento se manifestou não apenas no resultado eleitoral, em que Lula e Jair Bolsonaro, juntos, acumularam mais de 91% dos votos no primeiro turno e alcançaram o resultado em disputa presidencial mais acirrado na história do Brasil no segundo; mas também na conduta dos eleitores, com aumento nos casos de violência política naquele ano.
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O tema recebeu destaque no primeiro discurso de Lula como presidente eleito. “Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação. (…) A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra. Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído”, declarou.
Paralelamente, a percepção do eleitorado sobre o grau de polarização política nacional foi acompanhada pela Quaest. Em 30 de outubro de 2022, um levantamento feito pelo instituto revelou um total de 72% de brasileiros que naquele momento, enxergavam um país dividido, contra 19% que avaliavam o Brasil como um país unido.
Ao todo, as estatísticas evoluíram para um ápice na polarização em dezembro do mesmo ano, com 90% enxergando um país dividido e 8% um país unido. Em outubro de 2023, o cenário é de aparente melhora: 64% dos entrevistados enxergam um cenário de divisão, e 27% de união.
Felipe Nunes, professor de ciência política na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor da Quaest, alerta que, se observados com profundidade, parte da queda de polarização revelada por esses dados é apenas aparente. Se observado o padrão eleitoral dos entrevistados, a percepção de que o Brasil está unido se dá, em sua maior parte, na visão de eleitores do presidente Lula, não havendo mudança equivalente entre eleitores de Jair Bolsonaro.
“Se há algum efeito no discurso do Lula sobre a polarização, é no discurso para a sua base. A base do Lula acredita que as coisas estão melhorando. Os adversários não, eles avaliam que continua a mesma situação”, apontou Felipe Nunes. Essa mudança de visão entre lulistas, na sua análise, não se dá por acaso. “Eles são submetidos todos os dias, na bolha deles, a mensagens que refletem esse sentimento. Ou seja, que o governo está promovendo a União que prometeu”.
Sem expectativa de mudança
Diante desses dados e da forma como a política brasileira vem evoluindo desde o período eleitoral de 2022, Felipe Nunes considera pouco provável uma mudança na polarização nacional nos próximos meses ou anos. “A polarização continua. Essa polarização está toda embasada nas diferenças de visões de mundo entre lulistas e bolsonaristas. Ela tende a continuar”, lamentou.
Um dos principais fatores responsáveis pela manutenção da polarização, em seu entendimento, é justamente a forma com que os eleitores passaram a enxergar seus candidatos. “A maneira como as pessoas estão se colocando em relação ao governo passa pela identidade que elas formaram na última eleição. Ser lulista ou ser bolsonarista deixou de ser uma opção política, passou a ser uma identidade. Ninguém larga tão facilmente a própria identidade”, explicou.
Para ele, caso o governo queira solucionar a polarização, o melhor caminho é por meio da pauta econômica. “A única saída que eu vejo é o governo entregar resultados econômicos tão contundentes que as pessoas parem de discutir temas que as divida, como abordo, armas, drogas e demais pautas de costumes, e passem a observar que o governo é capaz de entregar o que elas precisam, independente da visão sobre ele”.
Nesse sentido, a via oposta também tende a se manifestar. “Quanto melhor a economia estiver, maiores as chances de a polarização arrefecer. Quanto pior, mais difícil fica para que essa polarização ceda”.
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