O presidente do Solidariedade, Eurípedes Jr., é um fenômeno da política. O único cargo eletivo que ele conseguiu na vida foi como vereador na cidade de Planaltina de Goiás. No entorno do Distrito Federal, Planaltina de Goiás tem 105 mil habitantes. De acordo com a Polícia Federal, quando presidia seu antigo partido, o Pros, que se fundiu ao Solidariedade, Eurípedes desviou mais de R$ 36 milhões dos fundos partidário e eleitoral. Depois que a PF iniciou na quarta-feira (12) a Operação Fundo do Poço, Eurípedes fugiu, se pirulitou. Foragido, entrou na lista vermelha da Interpol. No sábado (15), afinal, se entregou à polícia.
Se Eurípedes dividisse os R$ 36 milhões com cada um dos 105 mil habitantes de Planaltina de Goiás, daria a cada um mais de R$ 300. Em 2014, quando ele tentou se eleger deputado federal, recebeu 79 mil votos. Se tivesse entregue a grana que, segundo a PF, desviou para cada um dos seus eleitores, daria mais de R$ 450 para cada um. Um bom dinheiro. Meia cesta básica.
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O que espanta é como alguém com tão pouco expressiva carreira política presida hoje um partido como o Solidariedade, que tem cinco deputados federais, 29 deputados estaduais, 2.073 vereadores e 98 prefeitos. Ok, não é um grande partido, mas também não é desprezível. Abriga nomes experientes, como Paulinho da Força (SP) e Marília Arraes (PE), que chegou a pertencer aos quadros do PT e chegou a aparecer bem em pesquisas para governar Pernambuco (aliás, esse foi mesmo o motivo da sua saída do PT, que, na época, preferiu manter sua aliança local com o PSB e apoiar o ex-governador Paulo Câmara). Mas quem preside o Solidariedade é Eurípedes Jr.
Que antes presidia o Pros. Os dois partidos se uniram para alcançar a cláusula de barreira e não perderem as benesses que a legislação eleitoral estabelece nesses casos. Inclusive, a mais importante delas, ter direito a tempo de propaganda de TV e aos fundos partidários e eleitoral.
O curioso Brasil, que não é para amadores, como dizia Tom Jobim, tem a mania de resolver um problema criando outro. O modelo anterior de financiamento de campanha com doações de empresas gerou escândalos imensos. O maior deles o esquema PC Farias na campanha de Fernando Collor em 1989. Então, muda-se o modelo para o de financiamento público. E a criatividade malandra dá um jeito de logo criar um outro esquema.
O caso de Eurípedes no antigo Pros, hoje Solidariedade, mostra como o esquema funciona. Trata-se de ter um partido que não seja pequeno demais para não receber os recursos dos fundos, mas que também não seja grande demais, porque aí, no caso, ganhará muito, mas gastará muito também.
Este ano, o PL receberá R$ 863 milhões do fundo eleitoral. O PT, R$ 604 milhões. Mas PL e PT são alternativas de poder. Terão milhares de candidatos a prefeito e a vereador concorrendo pelo país. Candidatos que os partidos querem eleger. Ninguém aqui está garantindo que não haja desvio de dinheiro entre os grandes partidos. O que se quer dizer é que, por conta dos seus planos políticos mais ambiciosos, esses partidos recebem muito, mas gastam muito também.
O Solidariedade receberá este ano R$ 90,7 milhões do fundo eleitoral. Quais são os planos eleitorais do Solidariedade? As pesquisas mais recentes não mostram o partido com chance de eleger no momento nenhum prefeito de capital. Antes, o Pros anterior de Eurípedes provavelmente tinha ainda menor apetite eleitoral.
Não há assim muita ambição eleitoral que demande grandes gastos de campanha. Se o que apurou a Polícia Federal se confirma, seria assim que sobram R$ 36 milhões para desviar.
Então, Eurípedes fez 36 viagens internacionais com a sua família com dinheiro do partido. Teria até comprado um helicóptero usando R$ 3,5 milhões de recursos da legenda.
A receita parece clara para quem quer transformar um partido em empresa lucrativa para si mesmo: nem pequeno demais para perder os fundos, nem grande demais para não gerar muito gasto. Pequenas legendas, grandes negócios…
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