Em 2018, a ex-senadora gaúcha Ana Amélia Lemos foi a candidata a vice-presidente na chapa do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin à Presidência da República. Ana Amélia estava então filiada ao PP e Alckmin ao PSDB. Quatro anos depois, Ana Amélia deixou o PP e filiou-se na semana passada ao PSD. E Alckmin está prestes a se filiar ao PSB, na próxima quarta-feira (23), para ser agora o candidato a vice-presidente na chapa de um adversário de outras disputas, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Nesta entrevista ao Congresso em Foco, Ana Amélia avisa: desta vez ela não seguirá os passos de Alckmin.
“Alckmin vai prestar um grande serviço ao Lula, mas prestará um grande desserviço à sua própria biografia”, considera Ana Amélia. Para a ex-senadora que dividiu em 2018 a campanha presidencial com Alckmin, o perfil do ex-governador de São Paulo não se encaixa com o perfil de esquerda do PT e de Lula. E, da mesma forma, também não se encaixa o perfil mais conservador do eleitor que Alckmin amealhou ao longo da sua carreira política. Assim, ela acredita: “A maioria do eleitorado de Alckmin não vai acompanhá-lo”.
Ana Amélia afirma que até compreende as motivações de Alckmin no sentido de formar uma aliança de forças democráticas com o propósito de eliminar os riscos de retrocesso autoritário no país. “Eu admiro a coragem de Alckmin, e nada disso tira dele todas as qualidades que vejo nele. É uma das pessoas mais íntegras que conheci na política”.
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Mas, para Ana Amélia, que, além da vida política, é uma experimentada jornalista que acompanhou durante muitos anos as disputas de poder em Brasília, “2018 não é 2022”. A ex-senadora considera que alguns dos embates da última eleição presidencial vão se agudizar caso se mantenha a polarização entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL) que as pesquisas hoje apontam.
“Essa polarização entre dois movimentos bem distintos divide o país, e irá criar graves problemas para a governabilidade seja vitorioso Lula seja vitorioso Bolsonaro”, considera Ana Amélia.
Para a ex-senadora, qualquer que seja o resultado da eleição presidencial, tanto os grupos ligados a Bolsonaro como os ligados a Lula terminarão a eleição fortalecidos. Elegerão grandes bancadas no Congresso. E tenderão a radicalizar o embate de forças a partir de 2023.
Por um lado, acredita ela, mesmo vencendo, Bolsonaro não terá em torno de si uma base de apoio tão ampla no Congresso. Será menor, sem setores do empresariado e de centro que o apoiaram em 2018, mas terá um grupo forte e sólido ao seu lado, formado pelo Centrão. Por outro, o PT e as forças de esquerda também elegerão uma grande bancada. Tal situação, crê Ana Amélia, fará com que um lado tensione sempre o outro, levando a uma radicalização de posições.
Nesse sentido, Alckmin ao lado de Lula pode ser uma garantia importante para o candidato do PT no sentido de amealhar posições ao centro. Mas talvez, diante desse cenário imaginado por Ana Amélia, na prática a situação gere uma radicalização que aprofunde posições de esquerda num eventual governo Lula, deixando Alckmin isolado.
Eduardo Leite
Por essa razão, Ana Amélia crê que o melhor caminho para o país ainda seria construir uma solução alternativa que fugisse dessa polarização. Uma solução democrática que, por estar ao centro, reduziria a possibilidade de tensão vinda dos dois lados. Para a ex-senadora, tal solução poderá vir da eventual candidatura do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Ana Amélia é atualmente secretária extraordinária de Relações Federativas do governo do Rio Grande do Sul. Ao negociar sua ida para o PSD, ela conversou o tempo todo com Eduardo Leite, que avalizou a troca. Eduardo Leite é hoje filiado ao PSDB. Disputou a prévia no partido para a escolha do candidato à Presidência, e perdeu para o governador de São Paulo, João Doria. Agora, tem um convite do comandante do PSD, Gilberto Kassab, para trocar de partido e disputar pelo PSD, partido no qual se filiou Ana Amélia, a Presidência da República.
Nesse sentido, a filiação de Ana Amélia seria uma prévia da filiação de Eduardo Leite? “São duas coisas distintas”, rebate Ana Amélia. Ela, porém, admite: “Mas têm relacionamento”.
“A primeira avaliação, a minha, foi para o estado do Rio Grande do Sul. A segunda, é preciso falar com ele. Ele é que vai decidir. Mas está ponderando o que fará de forma madura”.
Ana Amélia pretende sair como candidata à vaga do Senado pelo Rio Grande do Sul. No PP, não havia espaço para isso, uma vez que o atual senador do partido, Luiz Carlos Heinze, pretende disputar o governo do Rio Grande do Sul e exigiu a vaga no Senado para entregar a algum aliado. “Eu compreendo, não guardo mágoa”, diz ela. Na carta, porém, que ela escreveu ao presidente regional do PP, Celso Bernardi, Ana Amélia diz que deixa o partido depois que o PP “deu inúmeros sinais explícitos” de que não desejava mais a sua permanência nos seus quadros.
Ana Amélia não espera uma eleição fácil. Ela poderá ter outros nomes fortes na disputa. Como o vice-presidente Hamilton Mourão, que disputará a vaga pelo Republicanos. Ou a ex-candidata à Presidência na chapa de Fernando Haddad, do PT, em 2018, Manuela D’Ávila, do PCdoB. “Mas nenhuma eleição é fácil”, considera Ana Amélia.
Conforme determina a legislação eleitoral, até o mês de abril, ela terá de se desincompatibilizar do cargo no governo do Rio Grande do Sul. Começará, então, a sua agenda de campanha pelo estado. Os próximos dias dirão se terá como companheiro de palanque e de partido Eduardo Leite disputando a Presidência.
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