A presidenta Dilma não pode embarcar na armadilha de antecipar o debate sucessório, como tem estimulado a mídia, mesmo tendo sido lançada sua reeleição pelo ex-presidente Lula. Precipitar o debate terá quádruplo significado: afugentar os investimentos, paralisar o governo, valorizar potenciais candidatos de oposição e demonstrar insegurança quanto aos resultados do governo.
A primeira consequência da precipitação do debate sobre a sucessão seria ampliar a desconfiança dos investimentos, além de elevar a insegurança de determinados setores de mercado, especialmente em relação à influência nesse processo do secretário do Tesouro.
Se, por alguma razão, Dilma entregar uma média de crescimento inferior à de FHC, mesmo que consiga sustentar o consumo e os empregos, corre o risco ir para a reeleição enfraquecida. Afinal, jogaria por terra a fama de boa gestora, que lhe garantiu o mandato em 2010.
A segunda consequência da antecipação ou acirramento da disputa seria a paralisia do governo, que deixaria de formular, implementar e cobrar resultados das políticas públicas para responder aos ataques da oposição.
Ora, se sem disputa eleitoral, os setores encarregados da coordenação de governo já se preocupam excessivamente com o que a mídia pública, imagine em período de campanha? O governo ficaria imobilizado em sua ação finalística, centrando seus esforços em ações defensivas.
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Além do mais, Aloizio Mercadante, um dos ministros mais hábeis e efetivos, tem feito um trabalho de articulação que, na prática, equivale ao de coordenador de campanha. E sem o ônus de ser percebido como tal.
A terceira consequência seria a natural valorização das potenciais candidaturas de oposição, que ganhariam espaço na mídia com críticas ao governo.
Isso formaria um ciclo vicioso, com todos querendo tirar proveito. De um lado, a oposição ganhando espaço na mídia e, de outro, setores da base querendo valorizar seu passe, com cobranças ou ampliação de exigências para continuar na coalizão.
E, em quarto, a precipitação demonstrará insegurança quanto à percepção de bem-estar da população e continuidade da alta popularidade decorrente dessa percepção. Ou seja, o temor de que a inflação fuja ao controle e o desemprego volte a crescer, retirando o discurso do governo.
Num cenário desses, com o governo na defensiva e sem um crescimento robusto, só restaria a Dilma fazer o que fez FHC na reeleição: a campanha do medo.
No pleito de 1998, o discurso de FHC era do medo ou de que a eventual eleição de Lula colocaria em risco o Plano Real, e, mais do que isso, poderia anular as perspectivas de crescimento e de geração de emprego e renda que a estabilidade econômica tinha propiciado.
Uma eventual campanha do medo de Dilma seria dizer que os adversários – tucanos ou não – colocariam em risco os programas sociais, anulando as conquistas de milhões de pessoas, tanto as que saíram da miséria quanto as que mudaram de padrão de consumo.
Eduardo Campos tem razão. É preciso salvar 2013, para ganhar 2014. E, para ganhar 2014, em todos os sentidos, Dilma precisa atrair os investimentos que não vieram em 2011 nem em 2012.
Nunca é demais lembrar que a economia, com distribuição de renda, é determinante para os processos sucessórios. Como regra, se a economia vai bem e há sensação de bem-estar o ambiente é de continuidade para os governantes; se vai mal, é de mudança. José Serra, que perdeu duas eleições presidenciais, conhece bem isso: em 2002 ele era o candidato da continuidade num ambiente de mudança. Em 2010, ele foi o candidato da mudança num ambiente de continuidade.
Portanto, uma coisa é o Lula, como aliado, aceitar a provocação e lançar Dilma à reeleição com quase dois anos de mandato a cumprir. Outra, completamente diferente, é Dilma, que é candidata natural, precipitar a campanha, comprometendo projetos e ações que poderiam fortalecer a economia e, consequentemente, facilitar a disputa pela reeleição.
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