Não é que Lula seja um ser superior, isento de erros, quase celestial, na verdade ele erra (e muito) assim como eu, você e qualquer pessoa. Mas há quem exagere na tese de que “Lula estaria elegendo Jair Bolsonaro”.
Ok, a sua campanha até o momento não conseguiu alinhar o mais básico: a comunicação, uma disputa por atenção entre seus apoiadores mais próximos virou um verdadeiro “tiroteio” de notas em off na imprensa. E, sim, não acho que falas do ex-presidente sobre a Ucrânia estejam erradas (já falei sobre isso aqui), tampouco como a fala sobre o aborto. Também é inegável o fato de que Lula entra em alguns debates “exóticos” para quem ainda não tem uma comunicação eficiente e definida.
O que circula por aí, seja nas ruas, seja nas redes, é mais por conta do tamanho da sua figura na política nacional e paixão dos militantes do que estratégia estruturada.
É até cômico que as mesmas pessoas que creditam a vitória de Bolsonaro ao uso massivo das redes sociais (algo em que eu não acredito totalmente) são as que hoje dizem que as redes sociais não são determinantes e que a campanha do Lula não deveria se preocupar com isso.
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Mas vamos ao que interessa!
Independente dos erros em algumas falas ou dos tropeços na comunicação da pré-campanha, já está claro que parte da imprensa e de alguns grupos políticos está frustrada com o naufrágio da caricata terceira via e agora embarca em algo que eu chamo de “bolsonarismo diet”.
PublicidadeA entrevista do ex-presidente para a revista Time é um exemplo disso.
Basta ver como alguns colunistas e jornalistas agiram ao acusarem Lula de fazer uma falsa-simetria entre os presidentes Putin (Rússia) e Zelensky (Ucrânia) desandaram a fazer falsas-simetrias entre Lula e Bolsonaro.
O tema que representa um terço da entrevista como um todo tomou todo o noticiário, com direito a comentarias políticos falando com olhar direcionado para a câmera e apertando os olhinhos para dizerem como Lula é malvado e perverso. Além das notinhas plantadas na imprensa que renderam vistosas manchetes como: “Lula é o maior cabo eleitoral do Bolsonaro”.
Quantas vezes você escutou “Bolsonaro irá eleger Lula” após o presidente dizer um de suas inúmeras estultices? Estultices que vão desde chacota com pessoas morrendo asfixiadas pela covid-19 até o mais profundo desdém com os brasileiros e suas dificuldades.
Essa fixação nos “erros” fez com que algumas coisas interessantes da entrevista passassem despercebidas, como, por exemplo, o fato de que revista Time disse que Lula estava em um exilio político!
Somando-se ao fato de que, na semana passada, a ONU apontou a suspeição de Moro e a perseguição política que Lula sofreu.
Reafirmando que é assim que O MUNDO reconhece a atuação do Moro como juiz federal e da Lava Jato: uma farsa.
Além disso, essa insistência toda em demonizar Lula faz com que coisas escabrosas em qualquer democracia, aqui, tornem-se coisas corriqueiras.
Como a intromissão indevida dos militares no processo eleitoral, ou o fato de que o presidente do país esteja trabalhando paulatinamente para tentar tumultuar as eleições, potencializar a violência política e reduzir a importância da nossa Constituição Federal, enquanto, dia após dia, alarga o alambrado da normalidade democrática. Vejam só como normalizamos e tornamos tolerável coisas que são intoleráveis.
Em 2018, Bolsonaro negou a escravidão no Brasil, comparou quilombolas a animais e ameaçou de morte opositores e minorias sociais.
Na ocasião, mesmo após declarações deste tipo, Bolsonaro não foi taxado como um extremista, na verdade a imprensa brasileira tratou de Bolsonaro de forma muito cuidadosa e cheia de dedos.
Houve até quem dissesse que era muito difícil ter que escolher entre um troglodita antidemocrático e um professor que sempre respeitou a dignidade humana e a democracia brasileira.
Outro exemplo disso é o próprio Moro. O ex-tudo defendeu barbaridades como o excludente de ilicitude e sempre esteve ao lado do bolsonarismo. Mesmo sempre acenando para eleitores e teses de extrema-direita, como o pacote anticrime, ainda é tratado como alguém moderado.
Sim, o Petáin de Maringá é apresentando como um centrista.
E, agora, temos essa falácia absurda protagonizada pelos mesmos que, segundo as suas alegações, teriam garantido a eleição de João Amoêdo (então candidato do partido Novo) ainda no primeiro turno de 2018, tendo em vista a fartura de declarações de pessoas que teriam votado nele, mas que terminou com míseros 2,50% dos votos.
Quem adere ao bolsonarismo justificando uma ou outra fala do Lula já não iria votar no petista em hipótese alguma, tampouco é alguém moderado. Só estava buscando um novo Amoêdo para se sentir moralmente superior. Para os insatisfeitos com as falas do Lula não faltam opções no campo da democracia. Ciro e Doria são exemplos essas opções.
E não sou eu que digo isso, são as pesquisas! A última pesquisa Ipespe mostra que Lula liderando. Oscilou dentro da margem de erro (-1). A distância entre os dois permanece a mesma. Dos últimos meses.
E se você comparar pesquisas de outros institutos verá também não muda muito. Por exemplo, se você comparar todas as pesquisas feitas pela Ipec verá que não mudou muita coisa, a mesma situação quando comparamos as pesquisas do Paraná Pesquisas e assim por diante.
O “crescimento” do Bolsonaro é nada além do que a antecipação do segundo turno, tanto é que ele cresce para próximo da quantidade de votos que teria nas pesquisas de segundo turno.
Como a terceira via perdeu o seu “charme” extremista com Moro e bolsonaristas Nuttella como Eduardo Leite, os extremistas que orbitavam o grupo voltaram para o extremista-mor da República.
Não é que todo o eleitorado de 3ª fosse extremista. Na verdade é havia um monte de extremistas envergonhados no meio.
Os verdadeiramente eleitores de centro (e aí que fique claro: não acho que Lula seja um extremista, Lula se encontra na centro-esquerda) estão nos quase 15% que orbitam entre Ciro, Doria e afins.
A última pesquisa Ipespe também revelou que a maioria da população não aprovou a decisão do Bolsonaro em conceder perdão a Daniel Silveira.
Apenas 29% aprovaram, os outros 56% não aprovaram (15% não responderam). Jair não consegue expandir seu eleitorado.
E vejam só como isso só reforça a tese de antecipação do segundo turno.
O número de entrevistados que concordam com o indulto ao Daniel é quase o mesmo de eleitores que votariam no Jair no primeiro turno (29% e 31% respectivamente).
E, ao que tudo indica, esse endosso ao bolsonarismo não virá de forma tácita e aberta, será mais sutil e discreto. Infelizmente parte da imprensa realmente irá normalizar um agressor contumaz da democracia e da imprensa.
Lula fez um governo que foi generoso e cheio de benesses para empresários, bancos e até mesmo militares. Por qual motivo esses setores possuem tanta implicância com o ex-presidente?
É o prenúncio de um fenômeno que eu já apontei acima, um movimento que irá nascer após o dia 2 de outubro: o bolsonarismo diet com limão.
Não importa o que Lula fala ou deixou de falar. O que me leva a crer que o problema não está nas falas e sim em quem as faz, no caso, o ex-presidente Lula.
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