Apesar dos avanços significativos que a sociedade alcançou ao longo das décadas no que tange à tecnologia, inovação, medicina, inclusão e diversidade, a violência contra a mulher ainda persiste como um problema global que transcende fronteiras culturais, econômicas e sociais. Não podemos negar que governos e sociedade civil têm trabalhado para gerar mudanças positivas na mentalidade das pessoas e nas políticas públicas que visam proteger os direitos das mulheres. Por exemplo, no último dia 7 de agosto, a Lei Maria da Penha completou 17 anos. Uma lei que se tornou referência mundial no combate e punição aos vários tipos de abusos e crimes sofridos por mulheres.
A aprovação do protocolo “Não Se Cale” é outro exemplo de iniciativa construída entre poder público, organizações da sociedade civil e população que clamam por mais segurança. O protocolo prevê que funcionários de espaços públicos e privados de lazer sejam treinados para assistir as vítimas em casos de suspeita de assédio sexual, dando a elas os primeiros cuidados e orientando-as sobre seus direitos.
Ainda assim, continuam alarmantes os números de casos de abuso, agressões e feminicídios. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de casos de violência doméstica saltou de 237.596, em 2021, para 245.713 em 2022. No primeiro semestre de 2022, a central de atendimento da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos registrou 31.398 denúncias e 169.676 violações envolvendo a violência doméstica. Segundo a Rede de Observatórios da Segurança, a cada quatro horas, ao menos uma mulher é vítima de violência doméstica no Brasil.
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Trata-se de um problema complexo que, por sua vez, não admite soluções simples. Conscientizar e educar a sociedade, fortalecer as leis, punir agressores, apoiar as vítimas e coletar dados são algumas das inúmeras iniciativas importantes no combate à violência contra a mulher. Mas neste artigo, eu gostaria de enfatizar um caminho muito caro para mim, que cresci num ambiente de vulnerabilidade e construí uma trajetória no mercado financeiro: a independência econômica. Ao ter uma fonte própria de renda, as mulheres ganham maior autonomia para tomar decisões sobre suas vidas. Isso inclui a possibilidade de sair de relacionamentos abusivos sem ter que enfrentar obstáculos financeiros que as prendam a situações de violência.
Segundo pesquisa de opinião do Observatório da Mulher em parceria com o Instituto Datasenado, cerca de 46% das mulheres não denunciam seu agressor para as autoridades por depender financeiramente dele. O motivo é o segundo no ranking, perdendo apenas para ‘medo do agressor’, que corresponde a 75% das respostas. Não podemos negar os dados, quando as mulheres têm a capacidade de ganhar, controlar e administrar seus próprios recursos financeiros, elas ganham autonomia para tomar decisões que afetam suas vidas e de seus filhos de maneira significativa.
O fortalecimento da independência financeira das mulheres pode ser alcançado por meio de programas de capacitação e treinamento profissional que as permitam adquirir habilidades para se tornarem economicamente autossuficientes. Além disso, a promoção de oportunidades de emprego e o acesso a serviços financeiros, como microcréditos, também pode empoderar as mulheres a tomarem controle de suas vidas e, se necessário, saírem de relacionamentos abusivos com seus filhos sem o medo da instabilidade econômica. Essas abordagens não apenas oferecem soluções práticas, mas também desempenham um papel fundamental na quebra do ciclo de dependência.
A persistência da violência contra a mulher, apesar dos avanços em várias áreas da sociedade, é um lembrete de que ainda há um longo caminho a percorrer. É claro que não existe uma bala de prata, mas existem alternativas eficazes que precisam ser tratadas como prioridade. Capacitar as mulheres economicamente não apenas lhes oferece recursos para escapar de relacionamentos abusivos, como enfraquece Círculo vicioso de violência.
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