por Carlos Henrique Passos *
A indústria química desempenha um papel crucial na economia moderna, fornecendo produtos essenciais, impulsionando a inovação e o desenvolvimento econômico, promovendo a sustentabilidade e colaborando estreitamente com outros setores para atender às demandas da sociedade. No Brasil, esse setor emprega quase 320 mil trabalhadores de forma direta e 2 milhões de pessoas incluindo os indiretos e efeito renda. Só na Bahia, são quase 15 mil trabalhadores atuando diretamente nesse setor, em mais de 60 empresas. Mas esse segmento vem enfrentando desafios complexos que colocam à prova sua resiliência e ameaçam seus destaques frente à economia local e nacional. Dentre eles, a escassez e altos preços de gás natural enquanto matéria-prima e fonte de energia para os processos produtivos.
A indústria química brasileira ocupa a 6ª posição do setor mundial, mas pode ser ainda maior, alavancar o desenvolvimento de cidades e do país, promover o incremento nas receitas dos estados e o consequente investimento em políticas públicas, melhorando de forma geral o ambiente econômico. Para isso, precisamos evoluir na continuidade a uma das principais agendas do setor: a redução do preço do gás natural, incluindo as matérias-primas extraídas dele, como etano, propano e butano, para consumo na indústria. Cerca de 70% dos custos de produção da química estão ligados às suas matérias-primas básicas. Se uma das mais importantes, como o gás, custa até sete vezes mais no Brasil que nos seus concorrentes internacionais, a competitividade fica prejudicada.
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Apesar dos preços elevados do gás natural para a indústria, que se encontram entre os mais altos do mundo, o setor químico ainda é responsável por cerca de 30% do consumo industrial, sendo que é também o que tem o maior potencial de crescimento nos próximos anos, caso o preço do gás se torne competitivo, podendo triplicar a atual demanda. Diariamente, esse setor consome 3 milhões de metros cúbicos do gás como matéria-prima e 9,7 milhões de metros cúbicos como fonte de energia e utilidades.
Por conta dessa forte dependência, no polo de Camaçari, onde está quase metade das indústrias químicas baianas, há uma forte preocupação com a capacidade ociosa das plantas. Na região, já foram registrados trancamento de postos nos últimos anos. A falta de competitividade, alavancada em boa parte pela questão do gás, tem feito com que a indústria química nacional opere com uma taxa de ocupação média de 65%, muito abaixo do patamar ideal.
Não podemos permitir o fechamento de indústrias tão essenciais para nosso desenvolvimento. Estamos falando de emprego com excelente nível de remuneração, renda e vitalidade econômica. O Brasil tem uma reserva significativa de gás e pode se tornar autossuficiente em poucos anos. É possível o Brasil aumentar a oferta de gás natural por meio de suas reservas para suprir as necessidades da indústria, mas precisa direcionar adequadamente investimentos em infraestrutura de escoamento, como UPGNs (unidades de processamento de gás natural), e também em gasodutos de transporte do produto e expandir as pesquisas para aumentar o aproveitamento na extração do insumo nos reservatórios, evitando os altos níveis de reinjeção atuais, que impossibilitam o melhor aproveitamento do gás e de suas frações mais nobres pela indústria brasileira.
Temos a possibilidade, em poucos anos, de alcançar a 4ª colocação entre as indústrias químicas mundiais, caso haja disponibilidade de gás a preço competitivo. Como uma fonte versátil de matéria-prima e energia, o gás natural não apenas impulsiona a produção de uma ampla gama de produtos, mas também contribui para a competitividade, a eficiência e a sustentabilidade dessa indústria vital. A contínua ênfase na otimização do uso dessa fonte, aliada a investimentos em inovação e tecnologia, será essencial para garantir um futuro próspero e sustentável, enquanto enfrentamos os desafios emergentes do cenário econômico e ambiental.
* Carlos Henrique Passos, presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb)
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