Os anos finais do ensino fundamental se tornaram o elo perdido da educação. Bem ou mal, os demais níveis de ensino são contemplados de alguma forma. Na educação infantil, as atenções ainda se voltam para a expansão. Nos anos iniciais, há consciência de que o primeiro desafio é alfabetizar os alunos, então existem soluções e modelos bem-sucedidos para quem quiser enfrentar a questão. O ensino médio é alvo de grandes atenções, infelizmente equivocadas e com pouca chance de avanço. Os anos finais — pelo bem ou pelo mal — ficaram fora do radar.
Em recente estudo sobre o tema, constatamos três importantes conjuntos de informações que considero oportuno compartilhar com o leitor interessado nas questões de educação e no futuro da juventude.
O primeiro deles é que os avanços dos alunos nos anos finais foram muito reduzidos nos últimos 20 anos, e o ritmo de avanço já vinha diminuindo desde antes da pandemia. Essa redução ocorreu apesar das melhorias nos anos iniciais. Existem casos isolados de melhorias significativas nos anos finais — por parte de redes municipais, mas não por parte de redes estaduais. Nem mesmo o Paraná, em que o segmento dos anos finais está sob controle total da rede estadual, realizou avanços diferenciais em comparação à média nacional. No estado de São Paulo, para dar outro exemplo, os avanços das duas redes, na capital, têm sido muito aquém da média nacional nesses últimos 20 anos. O problema é sério e vem se agravando em todo o país.
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O segundo achado importante é que o marasmo nos anos finais é usual na maioria dos países, inclusive em países desenvolvidos. Tradicionalmente, esse marasmo tem a ver com o descompasso entre o momento de transição da adolescência e o que a escola tem a oferecer.
O terceiro achado é auspicioso: conseguir avanços nos anos finais independe do nível dos alunos que chegam ao 6º ano. Dezenas de municípios conseguiram avanços significativos tanto com alunos que chegavam com níveis muito baixos quanto com alunos que chegavam com níveis adequados. A informação é valiosa, pois sugere que não há razão para esperar a melhoria dos anos iniciais para depois intervir nos anos finais.
Em 2010, tive a oportunidade de colaborar com a rede municipal de Sobral para reconfigurar a estratégia de melhoria dos anos finais. Os resultados não tardaram a surgir e vêm se mantendo em níveis elevados até então. Municípios como Teresina e Bom Jesus do Piauí são outros dois bons exemplos de cidades que empreenderam intervenções específicas nesse nível de ensino e lograram melhorias significativas nos anos finais.
Os danos da falta de estratégias adequadas nos anos finais não se limitam à baixa aprendizagem dos alunos. O desinteresse leva contingente expressivo de alunos simplesmente a abandonar a escola. E, ao fazê-lo, comprometem definitivamente seu futuro pessoal e proporcional.
Esses dados oferecem boas razões para que as redes de ensino considerem implementar estratégias de eficácia comprovada, a fim de lidar com os desafios dos anos finais. Esses desafios, hoje, foram ampliados, em todo o mundo, com o aumento da quantidade de jovens com disfunções socioemocionais, decorrentes em parte da pandemia e em grande parte do excesso de envolvimento com telas e redes sociais. Tudo isso precisará ser incorporado a novas estratégias, para promover mudanças significativas no comportamento e no desempenho dos alunos desse nível de ensino.
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