Arilton Freres*
As eleições municipais de 2024 confirmaram uma forte guinada conservadora no Brasil, refletindo o crescimento das forças políticas associadas à direita. Das 51 cidades que disputaram o segundo turno, o Partido Liberal (PL) e outras legendas de centro-direita conquistaram a maioria das prefeituras. Em especial, o PL, partido com forte vinculação ao ex-presidente Jair Bolsonaro, alcançou o segundo turno em nove capitais, vencendo em duas, enquanto o Partido dos Trabalhadores (PT) ficou com apenas uma capital entre as quatro disputadas.
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No panorama geral, partidos de direita cresceram 5% em relação a 2020, chegando a administrar 2.673 municípios, o que indica um fortalecimento inegável da direita, mesmo após o retorno de Lula à presidência.
O avanço conservador pode ser atribuído a diversos fatores. Entre eles, a mobilização das igrejas evangélicas, que desempenham um papel central no diálogo político com suas bases e têm facilitado a propagação de uma pauta de valores tradicionalistas. Esse movimento também reflete a falta de renovação na esquerda, que não conseguiu trazer novos líderes com apelo suficiente para desafiar figuras ascendentes da direita. Dessa forma, as conquistas das forças conservadoras foram potencializadas tanto pela base eleitoral consolidada quanto pela carência de alternativas progressistas que mobilizem o eleitorado.
O fortalecimento do conservadorismo no país, no entanto, não representa unicamente uma vitória de Bolsonaro e seus aliados. Trata-se de uma estratégia mais ampla e que encontra eco em tendências globais de valorização de pautas conservadoras e de desconfiança em governos anteriores marcados por acusações de corrupção. Apesar dos inegáveis avanços sociais promovidos em governos de esquerda, o discurso anticorrupção permanece forte e conseguiu ultrapassar, na percepção pública, os benefícios dessas administrações, especialmente nos últimos três mandatos do PT. A percepção de corrupção acabou por marcar a imagem dos governos de esquerda e tornou-se um rótulo difícil de reverter, pois, enquanto o estigma da corrupção foi associado a siglas de esquerda, não colou na direita de maneira institucional.
A centro-esquerda também apresentou um desempenho abaixo do esperado, especialmente partidos como o Psol e o PDT, que não conquistaram vitórias significativas entre as capitais. Em cidades menores, a situação foi semelhante: das nove disputas que o PT enfrentou no segundo turno, venceu apenas três. O resultado global reflete uma perda de 13% das prefeituras em relação a 2020, caindo para um total de 749 cidades administradas pela esquerda em 2024. Esse retrocesso revela as dificuldades de mobilizar a população em torno de agendas progressistas em um cenário cada vez mais polarizado e com uma tendência conservadora mais pronunciada.
Enquanto isso, os partidos de centro mantiveram uma relativa estabilidade, controlando 2.144 prefeituras. Esse posicionamento, que evita a radicalização, pode sugerir uma tentativa do eleitorado de fugir do extremismo, buscando alternativas menos polarizadas. Contudo, as eleições de 2024 demonstraram que o espaço para expansão das bases conservadoras é maior, sobretudo nas cidades de maior densidade populacional, onde as pautas da direita encontram eco mais favorável.
O mapa político pós-eleições revela, portanto, um país em que o conservadorismo avança, o centro mantém-se estável e a esquerda se retrai, sinalizando que a direita pode consolidar suas bases na política local e expandir sua influência em futuras disputas. Diante desse quadro, a esquerda terá de reavaliar suas estratégias e talvez investir em renovação de lideranças e propostas para recuperar o espaço perdido.
* Arilton Freres é sociólogo e diretor do Instituto Opinião
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