Todo mundo sabe da preferência do PT pelo empresário mineiro Josué Gomes para compor como candidato a vice-presidente a chapa presidencial com Lula. Dono da Coteminas, Josué é filho e herdeiro não só patrimonial, mas também eleitoral do seu pai, o ex-vice-presidente José Alencar, morto em 2011, vice de Lula nos dois mandatos do petista.
Mas tal como seu pai, Josué migrou recentemente para o PR com grande probabilidade de ser o candidato do partido à Presidência da República. Para permitir essa candidatura, por exigência da legislação eleitoral o dono da Coteminas renunciou ao cargo de vice-presidente da Fiesp, a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
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A prisão de Lula reforçaria a opção de Josué pela candidatura, cujas chances de se tornar em denominador comum dos votos do centro são muito grandes diante da imobilidade das candidaturas de Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB) frente ao crescimento de Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL), até agora os mais próximos do segundo turno.
José Alencar foi chamado para ser vice de Lula com o objetivo de tranquilizar o empresariado que suspeitava das intenções do então candidato sindicalista. Essa suspeição, dissipada pelos donos do PIB após as duas passagens do petista pela Presidência da República, precisaria hoje de uma inversão no espectro ideológico.
Com Ciro Gomes crescendo no centro-esquerda, abocanhando o apoio de parcela representativa do empresariado, a chapa do PT precisaria tomar a forma de “puro-sangue das esquerdas”. Neste caso, a escolha mais provável recairia sobre a deputada estadual Manuela D’Ávila, do PCdoB do Rio do Grande do Sul e pré-candidata do seu partido ao Palácio do Planalto.
Como depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff a aliança com o MDB ou ao centro passou a ser questionada no partido, uma chapa puro-sangue das esquerdas poderia levar Manuela a representar para os militantes do PT o papel que José Alencar representou para o empresariado na primeira vez que foi companheiro de chapa de Lula.
A presença de Manuela D’Ávila na chapa do PT reforçaria o “nós contra eles” e colocaria um pé de Lula na região Sul, muito refratária e até mesmo agressiva com o ex-presidente na recente passagem da sua caravana pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, onde foi atacada por pedradas e tiros.
O PCdoB também seria um forte aliado para o PT. Tendo resistido às mudanças de nome que atingiram outras siglas, o partido é a mais antiga agremiação do atual quadro partidário do País.
Consistente partido de esquerda no espectro político brasileiro, o PCdoB é organizado em todos os Estados e está presente em cerca de 2.400 municípios. O partido, que governa o Maranhão, tem 998 vereadores, 80 prefeituras, 25 deputados estaduais, 12 federais e uma cadeira no Senado.
A participação numa chapa com o PT poderá contribuir para aumentar sua representação nas casas legislativas. E se a candidatura de Lula não for adiante, a chapa com Manuela, que poderá ser batizada de “A Bela e a Fera”, até lá terá rendido muitos dividendos à sigla comunista.
*Geraldo Seabra, jornalista, trabalhou no Correio Braziliense, O Globo, Radio Nacional, O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, Exame e Veja. Também atuou como assessor de imprensa dos Ministérios da Previdência Social e da Ciência e Tecnologia; da CNI, da OCB e do Ipea.
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