Edson Sardinha
Considerado por aliados e adversários como “fiel da balança” nas eleições de outubro no Pará, o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) está entre tapas e beijos com o PT. O clima é de fim de casamento com a governadora petista Ana Júlia, que ele ajudou a eleger no segundo turno em 2006 e com quem vive às turras atualmente. Mas de prolongada lua-de-mel com o presidente Lula e sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff. Interlocutores de Jader têm apenas uma certeza sobre seu futuro político: candidate-se a que cargo for, apóie quem apoiar, o presidente regional do PMDB estará mesmo com Dilma em outubro.
“Só temos elogios ao presidente e a Dilma. A relação com o governo Lula é cordial e respeitosa”, diz o deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA). “Ele estará com Dilma”, reforça o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA), lembrando dos fortes laços de amizade entre o parlamentar paraense e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), cotado para vice na chapa encabeçada pela petista.
A proximidade de Jader com o governo federal se traduz em cargos. No ano passado, Jader Barbalho emplacou Jorge Nassar Palmeira na presidência da Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás que gera e leva energia aos nove estados da Amazônia Legal. O setor energético é uma das principais áreas de atuação do peemedebista.
Ainda em 2009, ele dividiu com o presidente do Senado, José Sarney, a indicação de José Muniz Lopes para a presidência da estatal, maior companhia do setor de energia elétrica da América Latina, com orçamento de R$ 9,39 bilhões este ano. “Mas a Eletrobrás é mais do Sarney do que do Jader”, conta Asdrúbal. Também estão nas mãos de indicados pelo deputado paraense a diretoria regional dos Correios e a coordenação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no estado.
O número de cargos ocupados por seus afilhados políticos já foi maior no governo Lula. Ele já teve, por exemplo, as diretorias de Negócios do Banco da Amazônia (Basa) e de Tecnologia dos Correios e a presidência da Funasa. No início do ano, Danilo Forte deixou o comando da Fundação Nacional de Saúde em meio a uma série de denúncias de desvio de verba e uso político de recursos da instituição. Indicado por Jader, o advogado cearense foi responsável por obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na área de saneamento. O orçamento anual da instituição é de R$ 4,7 bilhões.
Sempre governo
A influência do deputado paraense no governo federal desconhece cores partidárias. Ministro da Previdência e da Reforma Agrária no governo de José Sarney (1985-1990), ele emplacou aliados na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia e no Banco da Amazônia no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, de quem era forte aliado. Naquela época, mesmo enfrentando todo tipo de acusações, disparadas sobretudo pelo então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), Jader conseguiu chegar ao comando da Casa em 2001 com o apoio do PSDB. Era o primeiro passo para a frustrada tentativa de postular a vice-presidência na chapa tucana em 2002.
De inimigo histórico dos petistas, o peemedebista virou aliado preferencial no Pará em 2006. No primeiro turno, o deputado apoiou seu primo, o também deputado José Priante (PMDB). A entrada de Priante na corrida eleitoral daquele ano forçou a realização de um segundo turno entre Ana Júlia e o ex-governador Almir Gabriel (PSDB). Com a intermediação de Lula, Jader fechou com a petista e descarregou sobre ela os votos do PMDB no estado, decretando a primeira eleição de uma governadora no Pará.
Máquina nas mãos
Quatro anos depois, o deputado cobra caro pela fatura. “Agora é a hora do diálogo, de conversar com todos”, avisa Asdrúbal Bentes. A abertura de negociações com o PSDB e o DEM é um recado direto para a governadora, a quem os peemedebistas acusam de não ter cumprido os compromissos assumidos com a legenda durante sua eleição. Atualmente, o PMDB comanda um orçamento estimado em R$ 519 milhões no estado e ocupa 340 cargos comissionados, de livre nomeação do partido.
Entre os órgãos administrados pela legenda no governo Ana Júlia estão o Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran), a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) e a Companhia de Habitação do Pará (Cohab).
Um dote incompatível com a força do partido no estado, na avaliação dos peemedebistas. “Não queremos empregos. O que precisamos, como aliados, é ter participação efetiva das decisões de governo. Mas agora estamos no ocaso do governo. É tarde”, reclama Asdrúbal. “Não cumpriram no primeiro governo, por que cumpririam qualquer acordo no segundo?”, desdenha o deputado, ao defender o lançamento do nome de Jader para governador.
Inimigo íntimo
Há seis meses, o PMDB segura na Assembleia Legislativa a votação de um projeto que autoriza o estado a contrair um empréstimo de R$ 366 milhões do governo federal. Com o apoio dos tucanos na Casa, os peemedebistas querem votar agora um substitutivo pelo qual mudam a destinação do dinheiro a ser repassado pelo Tesouro para cobrir as perdas do estado com a crise econômica mundial. A alteração enfrenta resistência dos petistas, que veem no substitutivo mais uma manobra contra o governo.
“O PMDB é um aliado que virou oposição, como o PSDB e o DEM no Pará”, reclama o deputado Zé Geraldo (PT-PA). “Mas Jader continua fazendo diálogo com a Casa Civil, com o presidente Lula, que reconhece a força de sua liderança no Pará e acha que ele é um aliado”, admite o petista. “Ele foi fiel da balança na eleição da governadora. Foi determinante. Continua sendo uma força importante”, reforça.
No final do mês passado, depois de fazer um discurso na Câmara em que acusava Jader de tentar atrapalhar a reeleição de Ana Júlia, Zé Geraldo acabou desautorizado publicamente pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que tenta reatar a aliança PMDB e PT no estado para que a candidata petista, Dilma Rousseff, tenha um único palanque no Pará. “Eu tenho conversado com os presidentes de todos os partidos da base aliada. Não acho que as declarações de deputado A, B ou C vão prevalecer sobre essas conversas”, disse Padilha em visita a Belém no mês passado.
Há três semanas, Ana Júlia interrompeu a caminhada matinal que fazia no condomínio de luxo onde mora para fazer uma visita ao vizinho de bairro, Jader Barbalho. Na conversa, segundo auxiliares da governadora, a petista reforçou o compromisso de apoiar a candidatura de Jader ao Senado em troca do apoio dele à sua reeleição. Mais uma vez, ouviu queixas do peemedebista em relação ao tratamento dispensado aos seus afilhados políticos e o pedido de mais tempo para decidir seu futuro.
Alianças
O principal interlocutor da governadora com Jader é o deputado Paulo Rocha (PT-PA), um dos réus no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). O petista aposta na manutenção da aliança para chegar pela primeira vez ao Senado. No PT, no PSDB e no DEM, o consenso é que, caso se candidate ao Senado, uma das vagas será de Jader. E a outra, de quem ele apoiar. Nas pesquisas internas realizadas pelos partidos, o peemedebista lidera, em média, com o dobro das intenções de votos do segundo colocado. Além de Paulo Rocha, correm atrás do apoio do peemedebista a ex-vice-governadora Valéria Pires Franco (DEM) e o senador Flexa Ribeiro (PSDB), candidato à reeleição.
Segundo aliados do deputado, o cenário que se desenha prevê Jader candidato ao Senado e o lançamento de uma candidatura própria ao governo, forçando a realização de um segundo turno. Mesmo que seu candidato a governador não prospere, o peemedebista voltaria a ser o fiel da balança num eventual segundo turno entre a governadora Ana Júlia e o ex-governador tucano Simão Jatene, que foi seu secretário tanto no Pará quanto no Ministério da Reforma Agrária.
Nesse cenário, quem ganha força para a disputa estadual é o ex-deputado José Priante (PMDB), primo de Jader e candidato derrotado na eleição para governador em 2006. Priante, no entanto, vive a expectativa de herdar a prefeitura de Belém, com a eventual cassação do prefeito, Duciomar Costa (PTB). Cassado por um juiz em dezembro do ano passado, acusado de abuso de poder econômico, o petebista aguarda o julgamento do plenário do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PA). O julgamento de seu recurso, previsto para ser realizado ontem (11), foi adiado para amanhã (12).
Sob suspeita
A relação entre o PMDB e o PT ficou ainda mais esgarçada em março, quando Ana Júlia interveio no Detran, órgão administrado pelos peemedebistas. A governadora mandou sustar o contrato de R$ 106,7 milhões entre o Detran e o Conselho Nacional de Defesa Ambiental (CNDA), uma organização social de interesse público (Oscip) de São Paulo.
Reportagem do Correio Braziliense revelou, na véspera, que o CNDA foi contratado sem licitação para ações ambientais a fim de fiscalizar a emissão de gases veiculares no estado. Antes da publicação da reportagem, a assessoria da governadora havia repassado a responsabilidade sobre o assunto para o Detran. Um dia depois, em nota oficial, Ana Júlia afirmou que “tão logo tomou conhecimento do teor da reportagem, determinou rigorosa apuração dos fatos e a anulação do convênio visando resguardar os princípios da boa administração pública”. O Ministério Público do Pará abriu investigação para apurar o caso.
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