O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, anunciou uma investigação a respeito da detenção do motoboy Éverton Guandeli da Silva pela Polícia Militar de Porto Alegre (RS) neste sábado (17). Testemunhas acusam racismo na conduta dos policiais: de acordo com os presentes, Éverton, que é negro, havia sido agredido por um homem branco que portava uma faca, mas as forças de segurança o trataram como agressor, e não como vítima.
O caso foi no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, por volta do meio-dia de sábado, e foi registrado em vídeo por pessoas que presenciaram a cena.
Nas gravações, é possível ver:
- Éverton discutia com um homem sem camisa, de cabelos grisalhos, antes da chegada dos policiais. Neste momento, os dois estavam fisicamente distantes. É possível notar que o homem sem camisa segurava uma faca.
- Em outro vídeo, os dois estão mais próximos, já com a presença da polícia. Éverton chega a mencionar a faca e é puxado para longe por um policial, que diz: “Dá uma segurada”. O motoboy diz “me larga, então” e, apontando para o outro homem, diz que “quem está errado é ele”. O oficial da brigada militar empurra Éverton contra a parede e o manda colocar as mãos na cabeça. O homem que segurava a faca deixa a cena enquanto Éverton é revistado.
- Policiais algemam Éverton. Pessoas próximas à cena dizem que o motoboy é a vítima e que “quem tomou a facada foi ele”. Também dizem que a ação policial é racista.
- O motoboy é levado ao veículo policial, nos fundos, e diz: “Eu não estou agressivo”. As testemunhas cobram que os policiais também detenham o homem sem camisa, que segundo eles agrediu o motoboy.
O professor Renato Levin Borges, uma das pessoas que presenciou a cena e registrou em vídeo, conta ao Congresso em Foco que estava com amigos na fila para um restaurante próximo; ao ver a briga entre os dois homens, o grupo decidiu intervir. Renato diz que viu o agressor caminhando na direção de Éverton, que já tinha um ferimento superficial no pescoço.
Ainda segundo Renato, a polícia chegou em cerca de dez minutos e centrou a sua abordagem no motoboy. O homem branco teve a chance de deixar a cena por um momento e guardar a faca em casa. Foi levado pelos policiais para a delegacia no banco de trás da viatura, enquanto Éverton estava no compartimento traseiro de detidos.
Os dois homens ficaram detidos até pouco depois das 15h. Uma das reclamações de testemunhas é que o caso foi registrado como uma briga e não como uma tentativa de homicídio.
Governador abre sindicância, mas não fala em racismo
Em mensagem publicada na rede social X (ex-Twitter), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, disse que o caso será apurado “com a mais absoluta celeridade”. Eduardo, porém, não mencionou a possibilidade de racismo na abordagem da polícia.
O governador também declarou ter “absoluta confiança” nos “homens e mulheres que compõem nossas forças de segurança”.
Renovo minha absoluta confiança na @brigadamilitar_ e nos homens e mulheres que compõem nossas forças de segurança. Inclusive, em respeito aos dedicados profissionais que as integram, é que a apuração da conduta será célere e rigorosa.
— Eduardo Leite (@EduardoLeite_) February 17, 2024
Os fatos precisam ser apurados sem a presunção de racismo. A ação policial deve levar em conta os fatos na ocorrência e não a acusação prévia de racismo estrutural.