“No dia em que os filhos
do pobre e do rico,
do político e do cidadão,
do empresário e do
trabalhador, estudarem
na mesma escola,
nesse dia o Brasil será
o país que queremos.”
(Eduardo Campos)
O artigo de hoje vai fugir ao nosso tema habitual – concursos públicos –, para tratar do fato que esta semana abalou o País: a morte de Eduardo Campos. A importância do assunto justifica a exceção, que já ocorreu em outras ocasiões em que optei por abordar temas diversos relevantes para o Brasil. O que aconteceu com o candidato do PSB à Presidência da República é daqueles episódios que causam comoção nacional, dada a brutalidade da tragédia que tirou a vida dele e de mais seis pessoas. Campos estava acompanhado de quatro assessores, além dos dois pilotos do avião que caiu na manhã da quarta-feira 13, em Santos.
Confesso que fiquei perplexo, assim como devem ter ficado todos os brasileiros, ao ser informado do acidente. Contudo, o sentimento mais forte é de tristeza. Tristeza pela perda de um amigo e companheiro de partido e tristeza por ver um homem de apenas 49 anos de idade deixar viúva a esposa e órfãos os cinco filhos. Sem mencionar a dor devastadora que devem estar sentindo a mãe, os parentes e os amigos, que tanto o amavam. Todo o drama, toda a dor – e também toda a solidariedade – obviamente se estendem às famílias daqueles que com ele trabalhavam e o acompanhavam no voo fatídico, bem como às dos dois pilotos da aeronave. É muito sofrimento, e só o que se pode fazer é transmitir nossa solidariedade a todos os que estão sofrendo essas terríveis perdas.
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No caso de Eduardo Campos, o trauma tem dimensão nacional. Ele era um dos três principais candidatos à Presidência da República nas eleições de outubro próximo. Além disso, foi também o primeiro candidato ao cargo máximo da Nação a morrer em plena campanha, quando parecia pronto para surpreender os concorrentes com o seu carisma e sua forte presença política. Essas qualidades certamente levariam ao crescimento da candidatura, com o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão a partir desta semana.
Isso tinha acabado de ficar claro, dada a excelente participação de Eduardo Campos no Jornal Nacional, na véspera do acidente, quando o candidato se saiu com brilhantismo das “cascas de banana” jogadas pelos apresentadores, que pareciam mais interessados em criticá-lo do que em ouvir suas propostas de governo. Eduardo respondeu a todas as questões com segurança e tranquilidade, e em momento algum se deixou intimidar pela agressividade dos entrevistadores.
Na manhã de quarta-feira, ele partiu do Rio de Janeiro para Santos. Ninguém poderia supor que viajava para a morte. O acidente entra na lista de desastres aéreos que já custaram a vida de outros políticos importantes do País, como o ex-ministro do Trabalho e da Aeronáutica, Salgado Filho, nos anos 1950; Nereu Ramos, que foi deputado e presidente da República também nos anos 1950; o ex-senador Filinto Müller; o ex-presidente da República, general Castelo Branco; o ex-deputado e ministro da Reforma Agrária, Marcos Freire; e o ex-presidente da Assembleia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães.
A morte de Eduardo Campos, todavia, causa um abalo inédito no Brasil, por ter ocorrido durante a campanha presidencial, que a participação dele tornava imprevisível, dado o potencial de sua candidatura. Campos representava o fato novo nestas eleições. Articulador de uma aliança com a candidata a vice em sua chapa, Marina Silva, o presidenciável se propunha a mudar o País em aspectos essenciais, como a economia. Além disso, uma de suas principais bandeiras era a restauração da moralidade na administração pública, princípio constitucional tão aviltado ultimamente pelos fatos que culminaram com o histórico julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal e outros acontecimentos igualmente chocantes para a Nação.
O pensamento que escolhi para abrir este artigo traduz em poucas palavras o que poderia ser o governo de Eduardo Campos e dá mostras do conteúdo social da atuação política do candidato, que honrava a tradição legada pelo avô, Miguel Arraes. Combativo socialista, Arraes preferiu o exílio na Argélia, nos anos 1960/1970, a se curvar aos militares que o depuseram do governo de Pernambuco. De volta ao Brasil, foi reconduzido ao cargo mais de uma vez pelo voto e nos braços do povo, com a redemocratização do País.
Eduardo Campos seguiu os passos do avô, mas construiu sua carreira política independente dele, passo a passo, desde a faculdade de Economia, como líder estudantil, chegando aos cargos de deputado estadual, deputado federal, ministro de Ciência e Tecnologia e governador do Estado de Pernambuco, cargo que já fora de Arraes. Graças a isso, era um homem preparado para o desafio de chegar à Presidência da República antes dos 50 anos de idade, aos 49, que completara apenas três dias antes de sua morte, justamente no Dia dos Pais, 10 de agosto. Numa incrível e triste coincidência, seguiu o avô também na data em morreu. Miguel Arraes faleceu em 13 de agosto de 2005, exatos nove anos antes do neto.
Sobre Eduardo Campos, muito já se falou, sobretudo depois do trágico acidente que ceifou a vida dele e de quatro de seus companheiros de trabalho na manhã da última quarta-feira. Mas quero destacar as palavras do senador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, nosso futuro governador, amigo e colega de partido do ex-governador de Pernambuco por mais de uma década:
“O destino nos pregou um grande golpe. O Brasil, hoje, perdeu um dos mais brilhantes brasileiros. Eduardo Campos era um amigo, irmão, companheiro, líder insubstituível. Eduardo Campos representava, para milhões de brasileiros, a esperança de um novo tempo na política brasileira. Manifestamos nossas profundas condolências à família e aos amigos e agradecemos as infinitas manifestações de solidariedade. Pedimos a Deus, neste momento, muita serenidade e discernimento para superar a dor e seguir o exemplo de dedicação, compromisso e amor ao povo brasileiro manifestados por Eduardo Campos em sua trajetória.”
Neste momento de dor, só me resta reafirmar que o Brasil ficou mais pobre sem Eduardo Campos. Porém, sua história enriquece a nossa vida política, pelo exemplo de honradez, dignidade e espírito público.
Descanse em paz.
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