Falecida na quinta-feira (20), aos 91 anos, a cantora Elza Soares foi enterrada no dia seguinte com homenagens de políticos e artistas do Brasil e do mundo. Reconhecida como “A Voz do Milênio” e uma das artistas brasileiras mais cultuadas na música contemporânea, o passamento da carioca passou despercebido pelo governo federal, que não se manifestou sobre o tema. Não é algo inesperado: durante os anos de Jair Bolsonaro, o governo não lamentou nenhuma vez, de maneira oficial, a morte de artistas, nem decretou luto oficial pela perda de nenhum deles.
Durante o atual mandato, nomes relevantes da música, dramaturgia e literatura brasileira faleceram: João Gilberto se foi em julho de 2019; Nicette Bruno em dezembro de 2020 e Tarcísio Meira, em agosto de 2021; Sergio Sant’anna em maio de 2020 e Thiago de Mello em janeiro de 2022, para citar alguns exemplos. Em nenhum dos casos, a Presidência da República se manifestou.
No caso de João Gilberto, a resposta do presidente impressionou pelo brevidade: questionado por jornalistas, disse apenas se tratar de “uma pessoa conhecida”.
Apenas duas vezes Bolsonaro publicamente registrou pesar por um artista falecido – nenhuma delas em nome da Presidência da República. Em junho de 2019, quando Tales Volpi, conhecido como “MC Reaça”, foi morto aos 25 anos, em sua casa em Jundiaí (SP). O funkeiro, que compôs músicas de tom conservador para a campanha de Bolsonaro, teria agredido sua namorada antes de morrer com um tiro. À época, o presidente foi às redes sociais prestar condolências à família do cantor.
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Tales Volpi, conhecido como Mc Reaça, nos deixou no dia de ontem. Tinha o sonho de mudar o país e apostou em meu nome por meio de seu grande talento. Será lembrado pelo dom, pela humildade e por seu amor pelo Brasil. Que Deus o conforte juntamente com seus familiares e amigos.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) June 2, 2019
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Em novembro de 2021, Bolsonaro também manifestou pesar com a morte de Marília Mendonça, vítima de um acidente aéreo aos 26 anos.
– O país inteiro recebe em choque a notícia do passamento da jovem cantora sertaneja Marília Mendonça, uma das maiores artistas de sua geração, que com sua voz única, seu carisma e sua música conquistou o carinho e a admiração de todos nós.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 5, 2021
A Secretaria Especial de Cultura, vinculada ao Ministério do Turismo e comandada pelo ator Mário Frias, também não se manifestou sobre o falecimento de Elza Soares – apesar de ter ido às redes sociais declarar “profundo pesar”. Em seis linhas, a Fundação Palmares também expressou “profundo pesar”. A Fundação, presidida por Sergio Camargo, retirou o nome de Elza Soares da lista de personalidades negras do órgão, por conta da oposição que Elza faz ao governo.
Outro sinal do afastamento do governo com o setor é que Bolsonaro encaminha para encerrar seu mandato sem outorgar nenhuma medalha de Ordem do Mérito Cultural – fato inédito desde que a comenda foi instituída em 2005.
Desde janeiro de 2019, Bolsonaro decretou luto oficial de três dias apenas uma vez: na morte do ex-vice presidente da República, Marco Maciel, em junho do ano passado. Bolsonaro declarou pesar em outros poucos momentos, como após a morte do jornalista Ricardo Boechat, em 2019, e com as vítimas do incêndio do Centro de Treinamento do Flamengo naquele mesmo ano.
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