Newton Lins *
O argumento nuclear a favor da democratização do poder entre os partidos é tão antigo quanto a seca no Nordeste brasileiro: há de se respeitar a “igualdade entre os iguais”. Os partidos pequenos devem ter direito a maior participação no fundo partidário e a mais tempo no horário eleitoral gratuito. Essa deveria ser a primeiríssima prioridade da tão falada reforma política.
As diferenças de grandeza entre os partidos são de caráter linear, enquanto as prerrogativas concedidas pelo Estado para os seus funcionamentos são de caráter exponencial. No âmbito das concessões de tempo de televisão e fundo partidário, os pequenos partidos sobem pela escada enquanto os grandes partidos sobem pelo elevador.
Mas como em toda evolução natural, quando a espécie não age, a natureza entra em ação. Se na TV, os legisladores eleitorais decidem quem fala e quem não fala, na internet eles são vítimas de uma tsunami de modernidade que garante a todos um jogo a ser disputado em igualdade de condições. Na internet, todos os partidos sem exceção podem falar.
Agora, nós, os “pequenos”, temos a chance de equilibrar as ações. As redes sociais são território livre e democrático, um ambiente inóspito para o blábláblá de políticos de antigamente. A audiência é bem mais seletiva e politizada. Locução de voz aveludada, trilha emocional e maquiagem, truques tradicionais da TV, não seduzem os internautas. E não adianta também querer apenas falar. Porque a TV fala mas não escuta.
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Na rede, você tem que estar preparado para falar e para ouvir. É uma via de mão dupla onde, por mais que se queira, ‘a volta’ não pode ser controlada. As empresas de comunicação e marketing contratadas pelos grandes partidos, instaladas em suntuosos edifícios e pagas por políticos poderosos, podem sucumbir a uma inteligente e eficaz ideia surgida numa garagem de periferia e difundida por intermédio de um único computador. Os partidos pequenos já podem bater no peito e dizer: vocês querem ficar com a TV? Fiquem com ela. Nós temos a internet!
Através da rede, podemos estar presentes diariamente na vida das pessoas como a TV em seu processo natural de envelhecimento não consegue mais. A propaganda eleitoral, por exemplo, com a sua aparência formal, empacotada, institucional perdeu seu valor e passou a ter seu poder reduzido na tentativa de influenciar o voto. Poucos ainda assistem ao horário eleitoral gratuito.
Nas últimas eleições, as pesquisas qualitativas, que reúnem eleitores para discussões em grupo guiando assim as decisões de candidatos e marqueteiros, foram tomadas por eleitores que na última semana de propaganda, passados 40 dias do início da campanha, tinham visto um ou dois programas. Ou seja, ninguém aguenta mais o formato do horário eleitoral. É uma tortura até para candidatos e assessores.
O susto das elites políticas com as manifestações públicas ocorridas recentemente é a expressão de surpresa de “como cresceu rápido esta menina. Como é comunicativa! E eu nem a vi crescer.”
De personalidade independente, a internet não admite certos assédios, tampouco rédeas. O sistema, que por meio de barbantes invisíveis, ao longo de nossa história eleitoral, por vezes controlou, qual marido da década de 20, emissoras de rádio e televisão e muitos jornais, não se conforma com esta nova companhia, que insiste em seguir caminho próprio.
E se a internet não conhece donos também não quer dizer que saia sorridente com qualquer um. Para se relacionar com ela, é preciso sinceridade e dedicação, qualidades que os ultrapassados coronéis da política tradicional nunca viram necessidade de ter.
A internet veio para revolucionar a forma de comunicação entre representantes e representados. Além de garantir o direito de todos a falar, ela veio para ser ouvida atentamente também. Com força esmagadora, ela transforma o virtual em real em minutos. E por ela, os cidadãos podem começar a buscar saídas para a grave crise de representatividade que assola o país e o mundo. A internet veio para dar espaço para todos, principalmente para quem tem algo de realmente novo a dizer. A internet veio para garantir enfim a “igualdade entre os iguais”.
*É presidente do PSL-DF. Engenheiro florestal formado pela UnB, advogado, especialista em Direito eleitoral e secretário de Assuntos Estratégicos do Distrito Federal.
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