No domingo (8), o ex-presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal (Sindipol-DF) Fernando Honorato estava dentro do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) quando o principal prédio do poder Judiciário foi depredado. Em dois vídeos, ele registrou os golpistas baderneiros invadindo o prédio e quebrando tudo. Nada fez para evitar os atos de vandalismo. E, nos vídeos, registrou que era “o povo” quem fazia a quebradeira e acusava os ministros de “corrupção” e de “safadeza”. Em sua defesa agora, Fernando Honorato afirma que estava simplesmente “registrando a quebradeira”.
Ex-presidente do Sindicato da Polícia Federal no DF participou da quebradeira no DF. Veja
Fernando Honorato é um de pelo menos quatro lideranças da Polícia Federal que estão sendo investigadas por envolvimento direto com os atos golpistas do domingo. Ele foi presidente do Sindipol-DF até 2004. Na quinta-feira (12), quando teve acesso aos dois vídeos, o Congresso em Foco entrou em contato com Honorato. Enviou a seguinte pergunta para seu número de whasapp: “Há dois vídeos do senhor no STF no domingo participando da depredação. O senhor gostaria de dizer algo em sua defesa?”. Não houve resposta.
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Dois dias depois da publicação da matéria com os vídeos, Fernando Honorato enviou resposta, ás 14h24 deste sábado (14). Na resposta, ele alega: “Apenas relatei o que tinha acontecido”. É preciso registrar que Honorato não está mais na ativa como policial federal. Como ele mesmo afirmou ao Congresso em Foco, está aposentado, embora ainda exerça liderança sobre a corporação, uma vez que presidiu o sindicato da categoria. Não estava, portanto, trabalhando. E, se não era sua intenção, como alega, participar das manifestações, o vídeo mostra que ele usava camiseta da Seleção Brasileira, o uniforme dos manifestantes, e, aparentemente, tinha amarrada às suas costas uma bandeira do Brasil.
Veja abaixo a íntegra da troca de mensagens deste sábado desde a primeira resposta de Fernando Honorato:
“Eu não sei como você pode tirar a ideia que eu tenha participado da quebradeira. Apenas relatei o que tinha acontecido. Cheguei no local depois da chegada da Polícia do Distrito Federal. Constatação de acontecido agora virou participação?”
“Registrarei sua resposta. Mas o senhor parece endossar o que está acontecendo. Diz que é “o povo” que está fazendo. Como policial, o senhor não deveria tentar conter os atos criminosos?”
“Não só o policial deve impedir o acontecimento de um crime, mas todo cidadão também. Como já disse, eu cheguei no prédio do STF depois que a PM já estava dentro do prédio e enquanto eu estava filmando o ocorrido no plenário do Supremo não aconteceu nenhum tipo de depredação. Entretanto, logo em seguida os policiais da operação pediram para que todos saíssemos, no que atendi prontamente”.
“Mas no vídeo que o senhor publicou no STF ainda está havendo depredação. Inclusive, o brasão da República ainda está na parede de mármore atrás da cadeira da presidente. E nós sabemos que ele foi retirado. Há imagens dele em cima de uma das poltronas”
“Eu fiz questão de filmar o brasão e a cruz (crucifixo de madeira que também fica na parede no fundo do plenário do STF) em demonstração de respeito pela República e por Jesus. Agora, se ele foi arrancado depois que eu saí do prédio eu não tenho conhecimento. Só sei que quando saí, já fiz outra filmagem só por fora no momento em que o povo, patriotas, estava sendo atacado por bombas de gás lacrimogêneo” [No vídeo que Honorato fez, não parece ninguém sendo atacado por bombas de gás lacrimogêneo]
“O senhor está em Brasília? Foi procurado para prestar esclarecimentos?”
(Sem resposta)
“De qualquer modo, muito obrigado pelas respostas. Vou registrá-las ainda hoje”
“A princípio, eu não sabia qual povo tinha quebrado o STF, pois, como já disse, cheguei ao local depois do ocorrido. Agora, todos nós sabemos que o povo foi o filiado ao PT, o povo filiado ao Psol. O povo filiado aos demais partidos comunistas”.
“Que elementos o senhor tem disso? E, de novo, os vídeos dão a impressão de que o senhor endossa o que está acontecendo”.
Bem, você deve estar falando do meu jeito áspero de falar. Se é isso, digo que sou assim mesmo.
“Sem entrar na questão do envolvimento ou não na quebradeira, mas somente para o rigor da informação: o senhor estava lá para participar das manifestações, certo? Como cidadão?”
Na realidade, eu não tinha programado estar nesta manifestação. Tanto é que eu passei a manhã toda, até as 12h30, na feira livre de automóveis em Taguatinga tentando comprar um carro usado. Por volta de 13h, peguei marmitas na churrascaria perto do banco, perto da feira, e fui para casa almoçar. Depois do almoço, fui para o Pier 21 [shopping à beira do Lago Paranoá], pois queria assistir a um filme. Mas, quando estava me aproximando do Pier 21, passou por mim um comboio composto de carros da PM-DF. Achei aquilo muito estranho e resolvi segui-lo. Eles entraram atrás daquela entrada que atrás do Anexo IV da Câmara dos Deputados. Eu estacionei ali, pois a entrada é restrita para carros e segui andando até o prédio do STF.
“Por que o senhor apagou os vídeos das suas redes sociais?”
(Sem resposta)
“Obrigado pelas respostas. Pergunto novamente se o senhor está em Brasília e se foi procurado para dar esclarecimentos”
(Sem resposta)
Às 16h31, Fernando Honorato envia um vídeo que mostra policiais “chamando os manifestantes para dentro do Congresso”. No texto, diz: “URGENTE!!!! Novo vídeo mostra policiais chamando os manifestantes para dentro do Congresso!! Isso muda tudo!!! E agora??? Repassem ao máximo, pois os perfis que postaram nas redes já foram removidos!!!!”.
O Congresso em Foco questiona; “Mas no que isso ajuda o senhor? Isso só reforça a suspeita de que houve conivência das forças policiais. E o senhor, embora não seja da PM, é policial: federal”. Honorato responde, ao final da conversa: “Servi à Polícia Federal por 33 anos e completo este ano oito anos que já estou aposentado”.
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