Geovana Conti *
Interessante pensar que todas as indústrias, comércios e empresas em geral, operam em algum lugar onde, além de colaboradores, há vizinhos, fornecedores, consumidores, parceiros e toda uma rede de relacionamento. Pessoas que conhecem ou desconhecem o negócio, mas que são afetadas de alguma forma por sua presença neste lugar.
Ainda assim, quando o grupo decisor se junta para pensar em ações ESG de sustentabilidade direcionam seus investimentos, em sua maioria, para a área ambiental, que é importantíssima. Esse direcionamento é orientado, basicamente, por dois motivos. O primeiro é para se enquadrar às normas do mercado; a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), seguindo os modelos da SEC, nos USA, e da CSRD, na Europa, já definiu regras que serão exigidas nos balanços das empresas a partir de 2026 sobre seus impactos ambientais, sociais e de governança. O segundo é para aumentar seu lucro; de acordo com o site da Exame a cada 10% de investimento em ESG a empresa pode ter até 1% de aumento de lucro.
Mesmo sendo três áreas de ação para enquadramento às regras do mercado ou para aumentar a lucratividade, as iniciativas ambientais têm tomado muito mais espaço que as sociais. Talvez porque o “caminho mais fácil” sempre veste bem as decisões de curto prazo no universo capitalista, mas raramente se sustentam no longo prazo.
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Primeiro, porque não podemos transferir para o outro o nosso próprio relacionamento com as pessoas. Eu preciso me abrir para respeitar o lugar de cada um dos grupos que lutam por respeito e espaço na sociedade: mulheres, negros, LGBTQIA+, indígenas e outros. Para muitas pessoas, o fato destas questões existirem e a demanda de tempo para repensarmos, refazermos, aceitarmos e incluirmos todos são um grande incômodo.
Segundo porque confundimos doações com investimento social. Num país onde a caridade e a filantropia foram muito eficazes com o assistencialismo, temos ainda um conjunto gigantesco de ações importantes e fundamentais, mas nada transformadoras, como doações de cestas básicas, de roupas, de brinquedos, de presentes de Dia das Crianças ou de Natal e de reformas em instituições sociais. São todas ações reais, importantes pontualmente, mas que, se não estiverem dentro de um conjunto bem maior de ações e investimentos, não mudarão o fato destes beneficiários seguirem carecendo destas doações por anos e anos. Isso acaba gerando a sensação de que o investimento social não traz resultado.
Terceiro porque não sabemos medir os resultados destes investimentos. Achamos que resultado de investimento social tem a ver com a gratidão das pessoas ou o tamanho do sorriso da pessoa ao receber algo. Mas não! Investimento social, especialmente os feitos por um CNPJ, e não por um CPF, precisam trazer resultados concretos e mensuráveis, assim como todas as demais ações de uma Pessoa Jurídica. Hoje, já temos uma série de indicadores que mostram o status destes beneficiários antes e depois de cada ação, trazendo dados palpáveis e contábeis para todo investimento social. Pena que essa nova metodologia, alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas ainda é desconhecida pela maioria das empresas brasileiras.
O que fazer, então? Planeje, estabeleça metas e métricas concretas, conectadas com os ODS e com os Direitos Humanos e busque parcerias sólidas e projetos de verdadeiro impacto.
Por fim, participe daquilo que está investindo, não apenas dê dinheiro. Sim, você pode gerar lucro com investimento social, mas, neste caso, é mais do que isso, é sobre sermos humanos, sociáveis e entendermos nosso lugar e nosso papel no mundo.
* Geovana Conti é empreendedora social e fundadora da paresi – impacto que transforma. A Paresi.Social é empresa global que conecta investidores que querem causar impacto social positivo e eficaz a empresas e projetos sociais que transformam as vidas das pessoas.
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