A cidade de São Paulo viveu uma segunda-feira de caos com as greves do metrô, dos trens urbanos e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Para muito além da defesa dos interesses corporativos das categorias envolvidas nas greves, justas ou não, por trás das paralisações há a disputa eleitoral para a prefeitura da cidade no ano que vem. E, com essa disputa, de volta a velha polarização política que não parece mais nos largar. Enquanto o povo penava sem transporte, transpareciam os conceitos políticos dos principais nomes que dominam a cena eleitoral paulistana.
O mote da greve é o empenho do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de promover privatizações das estatais do estado. Nada que devesse espantar. A defesa das privatizações é parte importante da sua plataforma de campanha, da sua visão de mundo e do discurso conservador que ele encampa. O estado mínimo é parte desse conjunto de ideias. Espantoso seria se ele recuasse do seu programa de desestatização. Tarcísio de Freitas deve apoiar, também com o provável apoio do PL, a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Os sindicatos dos metroviários que fizeram a paralisação na segunda-feira são dominados pelo Psol. Também, no caso, nada que deva produzir espanto. Além da defesa dos empregos e das posições dos trabalhadores que possam se sentir ameaçados por um processo de privatização, a defesa da estatização, de um Estado forte, definidor de políticas e indutor da economia é parte do conjunto de ideias de esquerda que o Psol defende. O deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) lidera hoje as pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de São Paulo, com o apoio do PT. Quem aparece em segundo é Ricardo Nunes.
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No fundo, durante todo o dia de segunda-feira, os riscos da radicalização dos discursos em torno das greves andou preocupando os dois polos da disputa.
Na prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes faz alguns malabarismos para tentar não marcar seu perfil à extrema-direita. Mais de uma vez, fez declarações onde busca se posicionar como alguém de centro. Mas, ao mesmo tempo, ele espera contar com o apoio do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro e do Republicanos de Tarcísio. Apoios que ainda não estão completamente fechados. Há alguns dias, Tarcísio fez uma sinalização mais forte. Chegou a dizer que Ricardo Nunes era “um presente” que ele recebeu. O PL, no que parece ser parte do estilo Bolsonaro, ainda hesita. Então, ao mesmo tempo que tenta se ampliar para além do extremo, Nunes acena para ele de olho nos apoios.
Já Boulos, naturalmente, defende a manutenção do caráter estatal do transporte urbano e do saneamento. Mas ontem temia pelo caos. O prejuízo na vida do cidadão que penou para conseguir se deslocar de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Trabalhou para que a greve servisse como aviso, mas que também não se estendesse demais. Vinte e quatro horas e pronto.
E, por outro lado, Boulos talvez tenha tido seu quinhão de sorte. Se a parcela estatizada do transporte urbano parou pela greve, a parcela privatizada também não funcionou. A Linha 9 do metrô, privatizada, teve problemas. Na verdade, vem tendo problemas. Também há pesquisas que mostram que o paulistano não deseja a privatização da Sabesp.
No fundo, por 24 horas, durante as greves na segunda-feira, o cidadão de São Paulo sentiu na pele a disputa de conceitos que estarão em jogo na briga eleitoral do ano que vem. E avaliará se deseja seguir no jogo polarizado que já há algum tempo vem marcando a sua vida.
De longe, houve quem certamente acompanhou o desenrolar da última segunda-feira paulistana, de olho nas suas consequências. Uma dessas pessoas deve ter sido a deputada Tábata Amaral (PDT), que tenta se colocar ali como uma terceira via…
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