Edson Sardinha e Eduardo Militão
Dois dos três senadores eleitos que mais receberam recursos dos suplentes dizem que escolheram seus companheiros de chapa com base na força política e na capacidade de gestão demonstrada por eles no meio empresarial. O senador reeleito Demóstenes Torres (DEM-GO) e o senador eleito Vital do Rego Filho (PMDB-PB), mais conhecido como Vitalzinho, afirmam ainda que não houve qualquer acerto em troca da suplência. Ambos negam ter pedido colaboração financeira aos colegas e fazem elogios ao caráter e à capacidade de seus eventuais substitutos no Senado.
Suplentes doam R$ 3 milhões aos senadores
A assessoria de imprensa do senador eleito Roberto Requião (PMDB-PR) informou que o ex-governador estava viajando e, por isso, não poderia explicar quais critérios foram usados na escolha de seus suplentes. Ele declarou à Justiça eleitoral ter recebido R$ 857 mil do empresário que ocupará sua primeira suplência.
No último ano de seu mandato de deputado, Vitalzinho diz que teve apoio do partido no estado para indicar o empresário e ex-senador Raimundo Lira (PMDB) como primeiro suplente. A intenção, segundo ele, era motivar o ex-parlamentar a retomar a atividade política e montar uma base eleitoralmente forte no sertão paraibano, região natal de Lira.
Motivação
As doações, segundo ele, surgiram de maneira natural. “Isso aconteceu de forma natural. Eu o chamei para motivá-lo politicamente. Deixei ele absolutamente à vontade e todas as doações que ele fez foi por estar envolvido na campanha e por entender que estava ajudando”, explica o senador eleito.
Raimundo Lira é casado com uma prima do pai de Vitalzinho, o falecido ex-deputado Antônio Vital do Rego. Segundo o senador eleito, o contraparente estava distante da política após perder as eleições anteriores para o Senado. Dono de uma concessionária de automóveis em Campina Grande (PB), Lira está estabelecido também em Brasília. Doou R$ 870 mil à campanha de Vitalzinho, o que representa 29% da arrecadação total do peemedebista, que foi de R$ 3 milhões.
O senador eleito é só elogios ao suplente. “Ele é um ficha limpa. Procurei alguém que pudesse trazer para a chapa valores políticos e experiência”, conta Vitalzinho. Senador entre 1987 e 1995, Lira foi presidente da Comissão do Orçamento nos anos 90.
Vitalzinho diz que combinou com Lira que os dois fariam campanha juntos, que o suplente apareceria no horário eleitoral e em seus comícios. “Ele não é uma pessoa desconhecida, tirada de última hora para poder pagar a campanha”, afirma.
O deputado diz que não assumiu qualquer compromisso com o colega de ceder a vaga para ele em algum momento, ao longo dos oito anos de mandato, em troca de contribuição para a campanha. Vitalzinho afirma que sua vocação é o Parlamento e que não tem pretensão de deixar a Casa tão cedo. O senador eleito afirma que, caso precise ser substituído, deixará alguém preparado para a função. “Ele tem uma história no Senado. É uma história absolutamente correta, serena, participativa.”
Empenho na campanha
O senador reeleito Demóstenes Torres, que arrecadou R$ 9 milhões na campanha, recebeu R$ 700 mil do candidato a primeiro suplente, o empresário Wilder Morais, dono da construtora e incorporadora Orca. Ele conta que decidiu trocar a atual primeira suplente, a fazendeira, professora e empresária Sandra Melon de Paula, e manter o segundo suplente, José Eduardo Fleury. “Conhecia o Wilder há muito tempo. É o empresário que constrói o [supermercado] Carrefour no Brasil e no mundo inteiro. Um empresário bem-sucedido, homem conhecido em Goiânia, de sucesso, vitorioso”, disse Demóstenes. As contribuições de Wilder representaram 8% da arrecadação do senador.
O goiano explica que pediu aos suplentes que se empenhassem na campanha dele e do candidato da coligação ao governo de Goiás, o governador eleito Marconi Perillo (PSDB). Wilder e Fleury apareceram no horário eleitoral e participaram de seus comícios, conta Demóstenes.
O trato com os suplentes era que eles ajudassem na arrecadação, e não que tirassem dinheiro do bolso para ajudar na campanha, ressalta o senador. “Ficou combinado que todos ajudariam na arrecadação da campanha”, informa. Demóstenes diz que não cuidou da arrecadação dos recursos. Ele deixou a tarefa para um antigo colaborador.
O senador garante que, se tiver de deixar o Senado antes do término do mandato, deixará parlamentar competente em seu lugar. “É um homem de primeira linha, extraordinariamente capacitado, empreendedor e tem mais: não negocia com o poder público”, conta o senador reeleito, que foi candidato a governador em 2006.
Suplentes doaram R$ 3 milhões aos senadores
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