Antônio Augusto de Queiroz*
O governo quer uma eleição plebiscitária (fará comparação entre os mandatos presidenciais de Lula e FHC), e a oposição deseja um pleito voltado para debater o futuro, o pós-Lula. 2010 começou mais cedo e promete muita emoção.
Na linha plebiscitária, serão atribuídas ao presidente Lula algumas conquistas – como a superação da crise, a descoberta e o marco regulatório do pré-sal, a consolidação dos programas sociais, a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil e as Olimpíadas em 2016 no Rio de Janeiro – que serão reforçadas pela exibição, em grande escala, do filme Lula, o filho do Brasil.
Os fiadores do governo Lula, que poderão dar caráter plebiscitário ao pleito e favorecer a candidata oficial, são: o próprio Lula, cuja aprovação supera os 70%; a capilaridade dos programas sociais, ilustrada pelo Bolsa-Família, que já beneficia 49 milhões de pessoas, distribuídas em 12,4 milhões de famílias; a economia, que estará gerando emprego no ano da eleição; e o apoio oficial do PMDB, além de outros partidos de médio porte.
Já a estratégia da oposição passa por insistir no fato de que o candidato não é Lula nem o governante será ele, enfatizando que a candidata é Dilma e que o governo será dela. E sobre ela, em caráter acusatório, dirão que pouco se sabe, exceto sua condição de ex-guerrilheira, de fazedora de dossiê contra adversários e de pessoa arrogante e autoritária.
Além disso, ainda em relação a Dilma, irão questionar sua história, seus projetos, sua capacidade de exercer as funções de chefe de governo, chefe de Estado e líder da nação. No que diz respeito ao governo, conforme já antecipou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), afirmarão que desde 2009 não existe governo, mas a campanha de Dilma; não há obras a inaugurar, mas sim festa; nem discurso governamental ou administrativo, mas eleitoral.
O surgimento das pré-candidaturas de Ciro Gomes, pelo PSB, e de Marina Silva, pelo PV, se prevalecer esse padrão de disputa, dificilmente terão fôlego para evitar a polarização entre PT e PSDB ou entre a candidata do governo e o candidato da oposição.
É verdade que a população não está plenamente satisfeita com o PT (embora goste muito do presidente Lula), nem tem saudades do PSDB, o que teoricamente abriria espaço para uma terceira via, mas dificilmente Ciro ou Marina, caso confirmem as candidaturas, teriam mais votos que um dos candidatos da oposição ou da situação.
Três coisas são determinantes numa eleição: o tempo de televisão, palanques fortes nos estados e dinheiro para a campanha. E os candidatos do PT e do PSDB as terão em abundância, enquanto Ciro e Marinha são frágeis nesses quesitos.
Assim, de modo mais abrangente, o resultado da eleição presidencial de 2010 dependerá:
a) Para o governo, do desempenho da economia, dos programas sociais, das obras do PAC, da unidade da base de apoio, do caráter plebiscitário ou não da eleição, da capacidade do presidente de transferir votos, e também do desempenho pessoal da candidata.
b) Para a oposição, do estrago da crise, da desunião da base aliada do governo, de quem será o cabeça de chapa, do caráter não plebiscitário do pleito, da avaliação do desempenho dos governos dos estados de São Paulo e Minas Gerais, do apoio do DEM e do PPS e, principalmente, da aliança entre Serra e Aécio, além da capacidade de atrair apoio de parcela do PMDB.
A oposição não definiu ainda seu candidato. Os nomes são os dos governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves. Se o critério for o desempenho nas pesquisas eleitorais, Serra será o candidato. Se o critério for a capacidade de fazer alianças e penetrar em Estados dominados por Lula, como os do Nordeste, será Aécio.
Entretanto, se a oposição fizer a opção por uma chapa pura (Serra e Aécio ou Aécio e Serra), e contar com o apoio do DEM e do PPS, além de parcela expressiva do PMDB, poderá surgir o grande fato novo da campanha: Lula renunciar e concorrer a vice de Dilma. Isso naturalmente, se a legislação permitir.
(*) Jornalista, analista político e diretor de documentação do Diap.
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