Líder absoluto nas intenções de voto em todos os estados da região Nordeste – região em que mantém também laços afetivos por ter nascido em Pernambuco – o ex-presidente Lula, candidato do PT à Presidência da República, começa a vislumbrar focos de resistência da direita na região. E os primeiros sinais vêm do Ceará e da Bahia.
Na Bahia, o candidato do União Brasil ao governo, o ex-prefeito ACM Neto, lidera as intenções de voto e há possibilidade, de acordo com as pesquisas, de vitória ainda no primeiro turno. ACM aparece nos levantamentos com mais de 60% das intenções de voto. No Ceará, o deputado federal Capitão Wagner (União-CE), também do União, aparece liderando as pesquisas. No último levantamento, feito pelo Ipespe agora em agosto, ele chega a 38% das intenções no primeiro turno.
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Esse quadro é diferente do encontrado em 2018, quando todos os governadores eleitos da região tiveram relação com o palanque petista. No caso do baiano, já se fala que, depois de eleito governador e emplacando uma boa gestão, ACM Neto se tornará uma opção para a Presidência da República nas próximas disputas.
“É importante destacar que a direita brasileira, a direita tradicional, os liberais, com relação a economia, etc e tal, essa direita está sem representante”, destacou o cientista político Antônio Lavareda ao Congresso em Foco. “Com a chegada de Bolsonaro [presidente que tenta reeleição pelo PL], essa direita que é representada pelo antigo PFL, Democratas, PSD e PSDB, foi atropelada com a chegada de Bolsonaro em 2018. E nem agora conseguiu viabilizar candidatura”, completou.
“Para eles voltarem a ser uma opção na nacional [na eleição presidencial] eles precisarão ter novos quadros. Esses novos quadros, naturalmente, vão ser extraídos do governos da safra que se elegerão nessa eleição. Então, ACM Neto, Ratinho Jr. [Paraná], Ronaldo Caiado [Goiás], se Rodrigo Garcia [São Paulo] vier ganhar a eleição, são nomes que provavelmente serão os presidenciáveis em quatro anos”, projeto Lavareda.
Antônio Lavareda, inclusive, avalia como inteligente a opção de ACM Neto de não ter candidato presidencial no estado. O candidato, em entrevistas, argumenta que tem uma ampla coligação com 13 partidos, incluindo alguns, como PDT, que possui candidatura própria à Presidência da República. Por isso mesmo, para não ir de encontro aos aliados, adotaria uma posição neutra.
“É a opção mais inteligente que ele faz [não ter candidato presidencial]. Lula tem um desempenho na Bahia parecido com que tem no Nordeste, superior a 60% dos votos. Então, ele não quer ficar na contramão da escolha de candidatos presidenciais do eleitorado que vai votar nele”, completa. Lavareda lembra a eleição de 2006, quando o então candidato do PFL, do grupo de ACM Neto, estaria eleito no primeiro turno com 56%, mas acabou perdendo no segundo turno para Jaques Wagner, do PT.
“Paulo Souto estava praticamente reeleito em primeiro turno a 10 dias da eleição e, na reta final da campanha de governador, o palanque foi nacionalizado, ou seja, a questão da eleição presidencial contagiou a intenção de voto para governador. Então, é essa a referência que ele tem provavelmente em mente que o motiva para adotar essa postura agora”, completa.
Efeitos da fratura no Ceará ainda é incerto
Analistas divergem em relação as chances de vitória do Capitão Wagner ao governo do Ceará. Enquanto Antônio Lavareda acredita que as forças de esquerda separadas no primeiro turno possam se agrupar no segundo e conquistar a vitória, o cientista político Lucas Aragão, sócio da Arko Advice, destaca que o candidato do União Brasil pode surpreender nas urnas.
“No Ceará, a esquerda anda com sinais de cansaço. Um estado muito forte da família Gomes. Existe a briga de Ciro com o PT. Ciro, Inclusive, brigou com o irmão [o senador Cid Gomes]. O Capitão Wagner tem chances reais de vitória. Ele pode surpreender”, atesta.
No Ceará, Ciro integra o palanque do Roberto Cláudio, do seu partido, enquanto seu irmão Cid estaria optando pela candidatura petista de Elmano Freitas. “Com essa fragmentação da esquerda, ele [Capitão Wagner] é um candidato com chances reais de vitória. Eu acho que é um segundo turno em aberto. Eu acho que ele pode acabar surpreendendo”.
“Ele não é o favoritíssimo no momento. Mas eu acho que esse cenário de esquerda divida, fragmentada lá, e o Capitão Wagner é um comunicador muito bom, o Ceará é um estado que a gente pode ter uma surpresa”, projeta Lucas.
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